Sábado, 05 Agosto 2023 13:43

Socióloga defende liberdade, igualdade e soberania popular como princípios da democracia

Tathiana Chicarino diz que a tecnologia não é neutra e que os trabalhadores precisam se apropriar dos novos meios digitais de comunicação
A socióloga Tathiana Chicarino disse que a participação e a soberania popular são elementos imprescindíveis na construção da democracia A socióloga Tathiana Chicarino disse que a participação e a soberania popular são elementos imprescindíveis na construção da democracia Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio 

Bancários e bancárias de todo o país participam neste sábado (5) do segundo dia da 25ª Conferência Nacional dos Bancários, realizada no ginásio do Sindicato de Bancários de São Paulo, na capital paulista. Pela manhã, foi aprovado o Regimento Interno. O presidente do Sindicato do Rio José Ferreira fez parte da primeira mesa de debates do dia.

“A Conferencia já na abertura mostrou nossa unidade pelo bem comum neste espaço que é um símbolo da luta da categoria”, disse, agradecendo o acolhimento do Sindicato de Bancários de São Paulo, anfitrião do evento.

O que é democracia?

O primeiro painel de debates do dia foi sobre a Conjuntura Nacional e Internacional que foi aberto com a palestra da socióloga Tathiana Chicarino, professora da PUC-SP. Ela provocou uma reflexão crítica sobre a democracia.

“Mas o que é democracia, essa forma de vivermos juntos com tanta diversidade e pluralidade? Os trabalhadores têm papel fundamental na construção da democracia, que ainda hoje não é um sistema ideal, mas que a gente vai consolidando ao longo do tempo”, explicou.

Mídia e eleições

Tatiana fez uma retomada do processo democrático brasileiro e lembrou que a democracia não se resume às eleições como organização do sistema, mas também a organização da vida social, dos valores democráticos compartilhados.

“Temos desde a Constituinte 1988 a retomada da democracia formal. Mas será que nós avançamos na questão dos valores compartilhados?", questionou. 

Citou autores franceses que tratam da democracia e o surgimento dos partidos de massa como mediação entre as vontades e demandas da sociedade e na relação capital e trabalho.

“Com o advento da televisão há uma transformação. A eleição passa a ser pautada na personalização da escolha eleitoral e a mídia coloca a política na casa das pessoas”, explicou, citando como exemplo a eleição no Brasil de 1989, quando a TV e o marketing político passaram a ter uma papel preponderante na disputa do processo eleitoral.

Degradação institucional

Lembrou ainda que, após a reconquista da eleição direta e da Constituinte de 1988, houve um certo comodismo da sociedade civil e que, mais adiante, ocorreu um fenômeno de “otimismo acrítico e de degradação institucional”

“Tivemos a democracia no período de 1946 a 1964, historicamente recente e a ditadura militar, que em 1974, começou um processo de abertura ‘lenta e gradual’ promovida pelo regime. Os sindicatos foram fundamentais na reconstrução democrática, mostrando que a democracia se constrói de baixo”, disse, fazendo um apanhado histórico recente.

“Vivemos um otimismo acrítico, um comodismo da sociedade e vimos que o enraizamento da democracia de fato não aconteceu. Tivemos a eleição de 2014, o golpe contra Dilma com o impeachment que violou a soberania popular e, em seguida, os governos Temer e Bolsonaro, que promoveram uma degradação institucional e o esfacelamento dos valores democráticos”, acrescentou.

O mundo digital  

A socióloga mostrou ainda uma nova etapa da política, com a chegada da Internet, que trouxe um novo paradigma comunicacional.

“Com a internet, muda a forma de enxergar e fazer a política e a sociabilidade, com novas formas de interação, engajamento e mobilização”, explicou, lembrando da criação dos chamados “outsiders”, a ideia mitificada de “indivíduos que estão excluídos do poder estabelecido e passam a ascender na política tradicional", como os caso de Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro no Brasil, ambos criados pelo marqueteiro americano Steven Bennon, que faz o uso ilegal de dados das pessoas e a hiperconetividade, promovendo a desinformação e a retórica do ódio.

Ao final, Tathiana defendeu a “democracia radical”, no sentido de “raiz” no que se refere ao significado do sistema democrático com a participação e ação populares como elementos fundamentais.  

“Temos que radicalizar nos princípios éticos de igualdade, liberdade e soberania popular e nos apropriarmos das novas tecnologias. A tecnologia não é neutra, é ambivalente, ambígua e precisa ser apropriada por nós”, Concluiu.

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