EXPEDIENTE DO SITE
Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
O sociólogo Clemente Ganz Lúcio falou da reforma sindical e abriu sua fala na 3ª Conferência Estadual dos Bancários do Rio de Janeiro, realizada no sábado (15), em Niterói, dizendo que o presidente Lula concorda com as centrais sindicais de que é preciso aprovar, ainda este ano, a reforma sindical. Foi criado um grupo de trabalho para elaborar um projeto para ser levado para votação no Congresso Nacional. Delegados e delegadas sindicais também defenderam a urgência da pauta durante a Conferência da categoria.
“Há mudanças radicais no mundo do trabalho que o movimento sindical precisa saber e hoje não está em sintonia com essas transformações em função dos ataques que sofreu nos últimos anos com a reforma trabalhista e medidas provisórias”, afirmou Ganz.
Poder de negociação
Clemente Ganz destacou ainda que há impasses para a aprovação da reforma sindical diante de num Congresso Nacional tão adverso.
“Nós estamos assistimos as dificuldades de aprovar projetos de interesse dos trabalhadores no Congresso. Vamos agora colocar o time em campo, pois fomos colocados fora do estádio. A nossa proposição de reforma sindical visa primeiro retomar o poder de negociação dos sindicatos, que precisam ser fortes e bem estruturados e nossa proposta precisa ter segurança jurídica. Nosso tempo de regulação da representação dos trabalhadores está atrasado”, declarou, citando as dificuldades de representação, por exemplo, dos motoristas de Uber e empregados de plataformas digitais.
“Temos que regular em tempo real, com sindicatos fortes e capacidade de mobilização e de fazer greve. O primeiro eixo é colocar o sindicato na centralidade da negociação”, defendeu, dando como exemplo a necessidade de reconquistar o direito do trabalhador homologar nas entidades sindicais.
Defesa da unicidade
O sociólogo criticou ainda a tendência de fragmentação da base e representação sindical que ocorrem no mundo por pressão do neoliberalismo. “Sindicato fraco tem que ser fechado, não serve à classe trabalhadora”, radicalizou, dizendo que a unicidade dos sindicatos, por meio formal através de fusões ou criando um comando conjunto é fundamental para o fortalecimento da representação e organização de lutas da classe trabalhadora.
“No mundo, as mudanças têm acontecido com o objetivo de destruir a organização sindical, com a chamada ‘liberdade sindical”, acrescentou. “Querem entregar a estrutura sindical fragmentada para as empresas, usar a ‘liberdade sindical’ contra a gente. Mas também não dá para usar o modelo que temos hoje.
“Por preceito constitucional, os sindicatos devem representar sócio e não-sócio. A ideia de representar apenas sócio é uma história do neoliberalismo. O sindicato não é uma mera associação, mas existe para disputar a distribuição da renda e proteger os trabalhadores para que tenham emprego e renda. Se deixarmos a tecnologia como assunto da empresa nós estamos ferrados”, afirmou.
Desafios para o futuro
Ganz falou ainda dos desafios dos trabalhadores nos próximos 30 anos. “Como vamos representar os 2/3 de correspondentes e outros novos modelos de trabalho? É preciso uma reengenharia sindical, uma nova concepção organizativa, autonomia real para organizar o sistema sindical, através de um conselho, uma agência, para autoregulação das entidades de organização dos trabalhadores”, declarou, defendendo a criação de câmaras de autoregulação.
Defendeu ainda um grande encontro para a apresentação da proposta, em Brasília.