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Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
As novas tecnologias permitem ao capital controlar os trabalhadores em todo o processo produtivo nas empresas, mesmo que eles não estejam nos locais tradicionais de trabalho. A afirmação foi feita pela socióloga Ana Cláudia Cardoso, no painel que trata dos impactos das tecnologias nas novas formas de trabalho, durante a 3ª Conferência Estadual dos Bancários do Estado do Rio de Janeiro, realizada neste sábado (15), no Clube Português, em Niterói. “Antes o trabalho era controlado com os operários num mesmo espaço de atividade. A tecnologia permite hoje controlar o processo produtivo dos trabalhadores a onde estiverem os empregados, como um controle invisível”, explicou, mostrando como estas transformações elevam a exploração do trabalho.
Cláudia disse que as empresas se apropriam de todos os dados dos trabalhadores para criar modelos de comportamento e de habilidade dos empregados e deu como exemplo os galpões da Amazon, que controla toda a atividade dos empregados.
“A Amazon, no processo de demissão, recorreu a esses dados, para desligamento de funcionários, baseando-se no que considera ‘baixa produtividade’ sem levar em consideração as condições do empregado, como por exemplo, as funcionárias grávidas ou menstruadas, que precisam ir mais ao banheiro e de tempo de intervalos, não havendo possibilidade de nenhum diálogo entre empregado e empresa, pois todo o processo produtivo é controlado pela tecnologia”, alertou.
Tecnologia ‘não é neutra’
A socióloga disse ainda que “a tecnologia não é neutra, mas é a forma como ela usada” que define se ela será para o bem-estar das pessoas ou para ampliar a exploração do capital sobre o trabalho, explicando que o registro digital da ‘produtividade’ é utilizado para a previsão de futuras demissões.
“Como exemplo do nível de controle pelas tecnologias nos processos produtivos, temos os restaurantes, que contabilizam quantos clientes são atendidos por hora, a receita gerada, o tempo para servir o cliente, a gorjeta, reserva de mesas, contabilidade e folha de pagamento”, citou.
“Precisamos compreender que são as relações sociais que definem o modo de uso das tecnologias”, acrescentou. .
Relação com o neoliberalismo
Ana Cláudia ressaltou que “é preciso compreender a tecnologia em sua relação com a globalização e a ‘financeirização’ da economia e o neoliberalismo.
“Não é à toa que surgem os ‘falsos consultores’, 'empreendedores' que na verdade são trabalhadores que não conseguem ingressar no mercado formal de trabalho e acabam aceitando qualquer coisa”, disse. Explicou também que os dados das pessoas são hoje colhidos pelo mundo digital e “são muito relevantes para o capitalismo”, pois além da exploração do trabalho, há o uso de dados pessoais para venda de produtos.
“Quando acessamos qualquer plataforma, de comércio, social, profissional, estamos deixando que empresas se apropriem dos nossos dados, o chamado ‘extrativismo’ dos dados, a capacidade preditiva das empresas”, explicou, lembrando que o tema precisa ser debatido no marco regulatório da internet.
Controle do home Office
A palestrante falou ainda do controle do processo de produção do trabalho que chegou também ao home Office.
“Estamos vendo a externalização do trabalho, onde a empresa controla o trabalho e a ‘produtividade’ também na atividade profissional em casa, a partir do uso das novas tecnologias”, acrescentou Cláudia. .
Aumento da exploração
Ana Cláudia citou como exemplo do aumento do controle e da exploração do trabalho, as plataformas digitais, como Uber e I-Fodd que buscam o lucro e a dinâmica monopolista.
“As empresas de plataformas digitais entraram primeiro no mercado de trabalho em setores originalmente de trabalho mais precários, como entrega de produtos, transporte e turismo, porque do ponto de vista social teria menos resistência social dos trabalhadores e da Justiça. Em seguida eles começam a entrar em outros setores, como saúde, educação e serviços bancários”, explicou.
Destacou ainda que muitos destes trabalhadores de aplicativos incorporam a ideia de que ‘não são empregados’, mas um ‘livre empreendedor’ e não percebem que são apenas trabalhadores sem vínculo empregatício com condições precárias de trabalho e no mercado informal.
“O meio de produção é da plataforma digital, que é controlado pelas empresas. A palestrante falou ainda da chamada “gamificação”, modelo de gestão de metas a partir de algoritmos, incentivando os trabalhadores a ficarem conectados cada vez mais tempo ao trabalho e citou como exemplo as plataformas digitais, como o Uber e iFood, que enviam as corridas nos finais de semana com metas que prometem melhores reminerações, para explorar ainda mais os motoristas e entregadores, definindo metas relacionados à determinados locais de entrega.
“O iFood coloca no sistema da plataforma que, se o trabalhador fizer dez entregas em uma hora ele receberá um valor muito maior, mas o que acontece é que este modelo eleva o número de acidentes e, quando os entregadores estão quase atingindo a meta, param de receber as demandas ou ocorre, propositalmente, pane no sistema das plataformas, dito por estes trabalhadores”, disse.
Ao final, Cláudia lembrou que o governo Lula chamou estas categorias para regulamentação do trabalho nestas empresas, a fim de garantir direitos e melhores condições para estas categorias de plataformas digitais.