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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Não adiantaram os protestos nacionais dos trabalhadores organizados pelas centrais sindicais, a sinalização de otimismo do mercado com relação ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) - acima do esperado por especialistas - e os apelos de economistas, industriais e lojistas, além da redução inflacionária. O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, comandado pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto, não reduziu os juros nesta quarta-feira (21), mantendo a Selic nas alturas, em 13,75%.
Ninguém aguenta mais
O povo e empresários do setor produtivo, como indústria e varejo, já perderam há muito tempo a paciência com a direção “autônoma” do Banco Central. Não houve sequer sinalização de Campos Neto - que no relatório da instituição pediu “paciência e serenidade” - de redução para a próxima reunião do Copom, em agosto.
Maiores juros do mundo
O Brasil possui os mais altos juros do mundo. O Itaú, por exemplo, cobra 377% de juros ao ano na renegociação rotativa do cartão de crédito e há financeiras que chegam aos espantosos 1.500% ao ano. O resultado não poderia ser outro: 62 milhões de brasileiros negativados no SPC, 78% das famílias endividadas, empresas penduradas e metade dos impostos pagos pelos contribuintes acabam sendo usados para pagamento da rolagem dos juros da dívida pública aos bancos. Só o sistema financeiro e os especuladores ganham.
Decisão vergonhosa
Integrantes do governo, inclusive da equipe econômica, consideram o comunicado da atual direção do BC uma “sabotagem” e “uma vergonha”.
A expressão “sabotagem” e os pedidos de renúncia de Campos Neto pautaram as manifestações realizadas pelos movimentos sindical e social na terça-feira (20). Na ocasião da atividade nacional, o vice-presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) Vinícius Assumpção acusou a política de juros de “sabotagem”, lembrando que Campos Neto é bolsonarista e fez campanha pela reeleição do ex-presidente e está “sabotando os esforços do governo Lula”, que tem feito a sua parte, tomando medidas que apontam para a redução da inflação e a retomada do crescimento econômico.
“Não será possível retomar o desenvolvimento, a geração de empregos e de renda se a atual direção do BC não baixar os juros”, completou o sindicalista durante o protesto.
Destoando da realidade
Para Campos Neto e oito diretores do BC, no entanto, a conjuntura atual é de um “processo mais lento de redução de preços” e expectativas de inflação ainda “desancoradas”, ou seja, distante do cenário considerado ideal para o nível de preços. A avaliação destoa completamente da realidade de sinais de queda inflacionária, aumento do PIB (Produto Interno Bruto) acima do esperado por especialistas e da própria expectativa do mercado.
“O Comitê avalia que a conjuntura demanda “paciência e serenidade” na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária", pontua o relatório do Copom para tentar explicar o inexplicável.
Contrariando a visão pessimista do BC, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) alterou de “estável” para “positiva” a perspectiva da economia brasileira. A empresa de consultoria divulgou na quarta-feira passada (14) que desde 2019 não ocorria uma melhora na classificação de risco no país, tendo o índice estagnado nos quatro anos do governo anterior.
Fugindo dos juros
Apesar da medida do governo federal de incentivo de R$500 milhões terem triplicado o movimento nas concessionárias e elevado as vendas, desencalhando o estoque das montadoras, um fato inusitado ocorreu, segundo lojistas: o número de carros comprados à vista foi bem maior do que o de costume. A razão é muito simples. A classe média que tinha uma reserva financeira decidiu comprar à vista aproveitando a redução nos preços dos veículos e muitos fogem do financiamento, uma verdadeira agiotagem bancária, por causa dos altos juros, o que impediu muito mais gente de comprar o tão sonhado carro zero.
Inflação em queda
Para justificar a defesa da queda nos juros, o governo aponta para fatores como o impacto positivo do arcabouço fiscal nas expectativas de inflação, a perspectiva de controle das contas públicas, e os sinais de arrefecimento no nível de preços ao consumidor. A inflação medida pelo IBGE está em 3,94% nos últimos 12 meses até maio e, neste cenário, fica dentro do intervalo de metas para 2023, que vai de 3,25% a 4,75%.
Industriais também criticam
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também criticou a decisão do BC em nota publicada logo após a decisão do Copom. “A manutenção dos juros atual no patamar de 13,75% ao ano está além do necessário”, diz o documento dos industriais. Esta é a sétima vez seguida que a Selic é mantida no mesmo índice.
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, disse nesta terça-feira (20) à imprensa, que “não há nenhuma atividade econômica que possa pagar os juros cobrados hoje” no país. O industrial criticou o custo do crédito e pediu ao BC "uma outra visão da economia brasileira”, numa clara crítica à atual gestão de Campos Neto a frente da instituição
Economistas discordam do BC
A economista Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos disse à imprensa que “o tom do BC foi mais duro do que o esperado pelo mercado”.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, vê uma posição “conservadora” do BC. .