Terça, 23 Mai 2023 15:16
LONGE DA CRISE

Comandante da Aeronáutica recebeu mais de R$1,3 milhão de rendimento em três meses

Ganhos de militares do alto escalão chamam a atenção no momento em que, eles próprios, defendem estado enxuto e equilíbrio fiscal nas contas do governo
Comandantes das forças armadas prestam continência ao presidente Lula, em cerimônia do Exército. Os rendimentos dos militares do alto escalão, em relação aos servidores e trabalhadores civis, são astronômicos e este é mais um desafio do novo governo Comandantes das forças armadas prestam continência ao presidente Lula, em cerimônia do Exército. Os rendimentos dos militares do alto escalão, em relação aos servidores e trabalhadores civis, são astronômicos e este é mais um desafio do novo governo Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

O atual comandante da Força Aérea Brasileira, Marcelo Kanitz Damasceno, recebeu apenas em três meses de trabalho, mais de R$1,3 milhão de vencimentos, segundo o Portal da Transparência. O militar faturou R$907 mil em fevereiro e R$120 mil em janeiro de 2023, além de R$337 mil em dezembro de 2022. Os salários astronômicos chamam a atenção em função da grave crise econômica que enfrenta o Brasil nos últimos anos e da constante reclamação dos militares em relação à seus soldos.

Uma reportagem do jornal Folha de SP, também baseada no Portal da Transparência, já havia chamado a atenção pelos rendimentos do atual Comandante do Exército brasileiro, General de Exército Tomás Paiva, referente à sua “passagem para reserva” e “ajudas de custo relativas à mudança de localidade”. Apesar disso, se comparado ao colega da Aeronáutica, os valores do general do Exército, embora astronômicos para a realidade do salário médio no Brasil, são até bem modestos: um ganho mensal de R$41.378, SENDO r$24.495,36 de soldo e mais R$16.883,34 referente à função comissionada de comando da força terrestre.

Justificativas dos militares

O alto escalão das Forças Armadas usa sempre como argumento o fato deles não possuírem FGTS e nem horas extras, ao contrário dos civis, para justificar alguns de seus privilégios. Mas esquecem de lembrar que, em contrapartida, os militares possuem aposentadoria (que eles chamam de reserva) com salário integral, enquanto que um civil com níveis similares de cursos, recebe, no máximo, o teto do INSS, atualmente de R$ 7.507,49, ou seja, menos de 1/3 do que soldo de um militar da mais alta patente, fora os penduricalhos que podem quase dobrar o rendimento de um general, brigadeiro ou almirante. Esposas e filhas de generais também recebem gordas pensões. Isto sem falar que, na caserna, não há cartão de ponto eletrônico para controle de quantos dias na semana e quantas horas por dia eles trabalham.

Profissões extras

Não é fácil também encontrar ou ter acesso aos comandantes dos quartéis, quando procurados e, geralmente, é o oficial de dia, um tenente, capitão ou major, que responde pelo batalhão quando procurados por visitantes. Além disso, oficiais militares possuem hoje diversas atividades foras da caserna, lecionando em faculdades, como proprietários de empresas e exercendo outras profissões que um trabalhador comum, que trabalha oito horas por dia, dificilmente conseguiria acumular tais funções e salários.

Baixo custo com praças

Só para se ter ideia da diferença do que ganham as mais altas patentes nas Forças Armadas brasileiras, segundo reportagem da Revista Fórum, sobre os pagamentos feitos pelo Exército nos últimos 4 anos, o Exército teria gasto o mesmo valor com os militares da base – subtenentes, sargentos, cabos e soldados, em número infinitamente maior, do que  em relação à casta de generais da ativa, da reserva e pensionistas para viúvas e filhas mulheres, ou seja, cerca de R$ 3,8 bilhões. Proporcionalmente, os gastos com a base da pirâmide na caserna, como os praças, são baixos se comparados à alta cúpula.  Corte de custos no Exército, por exemplo, obrigam os recrutas que prestam serviço militar, todos de famílias pobres, pois os filhos de oficiais acabam sendo preparados para as escolas de oficiais ou universidade, são obrigados a pagar, do baixíssimo soldo que recebem, o uniforme que usam e que acabam tendo de ser devolvidos para as Forças Armadas.  

Farra das diárias

Outro número que chama a atenção é o alto custo de diárias para os militares (janeiro deste ano): O Ministério da Defesa é responsável por 11% de todos os pagamentos de diária na União, liderado pela Aeronáutica, com 33,17% de pagamentos e 34,74% de solicitações, somando mais de R$12 milhões. O Exército vem em seguida, com gastos de R$11 milhões e a Marinha fica bem atrás, com modestos R$2 milhões, ou seja, cerca de 5,7% do que é pago pela Defesa. 

"Curioso que, quando se trata de dinheiro investido para os mais pobres, os liberais, inclusive militares, defendem um estado enxuto equilíbrio fiscal, mas na  quando é uma farra de dinheiro para camadas mais privilegiadas, como a alta casta das forças militares ou investimentos para bancos e o agronegócio, ninguém diz nada. É uma inversão de valores que não podemos aceitar", avaliou a vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio Kátia Branco. 

 

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