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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Não são apenas os trabalhadores que sofrem com os mais altos juros do mundo praticados no Brasil. Empresários dos setores produtivos também criticam a insistência do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de manter, através do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic em 13,75% ao ano, índice anunciado na quarta-feira passada (3).
“Com esse juro elevado, o mercado continuará em um processo de retração, o mercado não cresce. Continuaremos anunciando paradas de fábricas ou as notícias serão ainda piores se essa taxa permanecer elevada. A taxa de juros hoje é incompatível com a expectativa de crescimento econômico”, reclamou Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos (Anfavea).
O setor teve queda de 19% na produção de veículos, em abril deste ano, em relação ao mês de março.
Críticas de economistas
Além de empresários do setor produtivo, economistas também não poupam críticas à política de juros altos de Campos Neto.
“Eu acho um erro manter os juros no patamar atual, porque a inflação que a gente vê hoje não é causada por demanda. Em geral, a gente usa juros para frear a demanda quando ela é excessiva. Mas não é o caso”, disse Bruno De Conti, doutor em Economia pela Unicamp e que foi economista do BNDES de 2010 a 2012.
“É preciso estimular a produção. Para isso, é preciso ampliar o investimento público, o que pode ser anti-inflacionário, ao contrário do que se imagina. Afinal, equilibraria oferta e demanda na outra ponta dessa relação”, completou Conti.
O movimento sindical continua a campanha pela redução dos juros no país.
“A Selic, taxa básica de juros, puxa para as alturas o custo do crédito cobrado pelos bancos, que chegam a impor no rotativo do cartão de crédito, como é o caso do Itaú, 377% ao ano. E há ainda instituições financeiras que chegam ao absurdo de mais de 700% de juros anuais, segundo dados oficiais do BC”, disse a vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio Kátia Branco.
População pendurada
A população é quem mais sofre com esta política econômica, que agrava ainda mais a crise. O Brasil tem mais de 62 milhões de pessoas humilhadas no SPC e, em 2022, o endividamento atingiu 77,9% das famílias brasileiras, segundo a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) divulgada em janeiro deste ano. O número representa um recorde da série iniciada em 2010, sendo o 4º aumento anual consecutivo. Em 2020 e 2021, o percentual de endividados foi de 66,5% e 70,9%, respectivamente.
Segundo pesquisa do Data Folha realizada em abril deste ano, 80% do povo brasileiro apoia as persistentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de ministros da equipe econômica do governo em relação às altas taxas de juros praticadas pela atual gestão do BC.