Sexta, 28 Abril 2023 19:09
MAIS SAÚDE, MENOS META

Sindicatos vão denunciar ao MPT adoecimento do trabalhador e tratamento indevido de perícias

Plenária Sindical define estratégias para garantir mais saúde e qualidade de vida para a classe trabalhadora no Brasil
O Sindicato promoveu a Plenária Sindical que não apenas debateu, mas também propôs iniciativas no combate ao adoecimento do trabalhador brasileiro O Sindicato promoveu a Plenária Sindical que não apenas debateu, mas também propôs iniciativas no combate ao adoecimento do trabalhador brasileiro Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Sindicato dos Bancários do Rio sediou na sexta-feira, 28 de abril, no auditório da entidade, uma Plenária Intersindical para debater a situação do adoecimento dos trabalhadores, a não emissão da CAT (Comunicação de Acidentes do Trabalho) e as reclamações de empregados quanto ao desprezo muitas vezes dado pelos peritos do INSS, não reconhecendo a doença ocupacional. O evento marcou o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho e Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.

Iniciativas e proposições

No final de encontro, Jô Araújo, diretora do Sindicato dos Bancários do Rio,  anunciou que o movimento sindical irá fazer uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre o adoecimento do trabalhador e as dificuldades para o reconhecimento do chamado “nexo causal” (elo que liga a conduta de um agente, no caso o modelo de trabalho imposto pelo empregador, com o resultado do dano causado, que é a doença fruto da atividade profissional).

Será realizada também uma consulta nas diversas categorias para saber a situação nas questões levantadas no evento, como por exemplo, se o empregado adoecido por consequência da atividade profissional “conseguiu ou não emitir a CAT junto à empresa”, se “o tratamento dado pela perícia do INSS foi satisfatório ou ruim” e se a área médica de atendimento é “ortopedia (LerDorts) ou psiquiatria (doenças emocionais e psíquicas). A ideia da consulta foi anunciada, em primeira mão, pelo Sindicato dos Bancários do Rio, que publicará as perguntas no Jornal Bancário e no site. Está programado também um seminário ou conferência sobre o assunto e a participação das centrais sindicais nestas iniciativas, bem como encontros com parlamentares e o ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT) para buscar soluções para os dilemas enfrentados pelos trabalhadores.

Pela manhã, teve a campanha nacional no Twitter, com a hashtag #MenosMetasMaisSaúde.

Evento elogiado

Os dirigentes sindicais do Sindicato, Jô Araújo, que mediou o debate, e Renato Higino, foram muito elogiados pelos participantes por se desdobrarem para realizar o evento, mesmo sendo numa sexta-feira que antecedeu ao feriadão de 1º de Maio (próxima segunda-feira), e em um dia chuvoso, devido a importância da data, que contou com a presença de trabalhadores de diversas categorias.  Jorge Lourenço, tesoureiro do Sindicato dos Bancários, lembrou do grande número de demissões e de adoecimento na categoria e da importância do papel do Departamento Jurídico e da Secretaria de Saúde na luta pela emissão da CAT e nas reintegrações conseguidas através de processos na Justiça do Trabalho. 

Exploração do trabalho

Kátia Branco, vice-presidenta do Sindicato dos Bancários, lembrou que o trabalhador, cada vez mais, está doente em função da exploração do trabalho no Brasil.

"Hoje temos mais bancários e bancárias adoecidos por doença psicológica do que em função das Ler/Dorts, e muitas vezes o funcionário trabalha acometido de doença do trabalho, mas por medo de ser demitido, não comunica o problema para a chefia e a empresa”, disse. 

Modelo de gestão

Adriana Nalesso, presidente da Federa-RJ (Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores no Ramo Finaceiro) culpou o “modelo de gestão” de bancos e empresas pelo crescimento de adoecimento ocupacional no Brasil.

“Somente em 2022 nós tivemos mais de 612 mil casos e 2.500 mortes registrados de acidentes de trabalho e nós sabemos que, na realidade, este número é muito maior, pois há muitos casos subnotificados”, revelou.

“O que está acontecendo que está aumento o número de acidentes de trabalho em nosso país?”, questionou Adriana, citando como uma das causas da atual situação, a precarização nas condições de trabalho gerada pela Reforma Trabalhista, implementada no governo Michel Temer (MDB) e pelas Medidas Provisórias criadas pelo governo Bolsonaro, defendendo que o governo Lula retome as políticas de estado não só de geração de empregos, mas de qualidade de vida e de trabalho.

Dia de luto e de luta

Daniele Moretti, representante da CTB, exaltou o evento e a capacidade de mobilização dos trabalhadores. “Este dia é difícil, de luto, mas também de luta. Precisamos acreditar que é possível mudar essa situação”, ressaltou Daniele , lembrando das vítimas de acidente de trabalho e de covid-19  nos últimos anos, no Brasil.

O problema das perícias

O também diretor dos Sindicato dos Bancários, Renato Higino, lembrou que a luta para prevenção e combate à doença ocupacional nunca terá êxito se não houver uma mudança no tratamento dado pelos peritos do INSS.

“Cerca de 90% dos empregados sofrem de doença psíquica na categoria bancaria porque ele tem medo de informar em seu emprego que tem doença ocupacional, porque ele passa a ser uma engrenagem quebrada. É preciso responsabilizar os abusos das perícias que, indevidamente, se negam a reconhecer a doença ocupacional ou vamos ficar discutindo este tema por mais 10 ou 15 anos sem uma solução”, avaliou. 

Um bancário do Santander elogiou a iniciativa do evento, dizendo que é um aprendizado para ele, que também sofre de doença em função da sobrecarga de trabalho, pressão e assédio moral no banco para atingir metas desumanas. Um funcionário do Bradesco, agradeceu ao trabalho do Departamento Jurídico do Sindicato para garantir a sua reintegração e retomada do vínculo empregatício e dos direitos trabalhistas.

Jane Santana, representante da CUT disse que a situação do adoecimento da classe trabalhadora deve-se “a própria exploração do empregador, a política do ‘descarte’, que torna o funcionário doente ‘descartável’, sem utilidade para o capitalismo”. Citou como exemplo, os carregadores de bujão de gás, que em 10 ou 15 de anos de atividades são descartados pelo mercado de trabalho por causa do adoecimento, com graves problemas de coluna e nas articulações.

“A Petrobras lucrou mais de R$200 bilhões reduzindo o número de trabalhadores e terceirizando, elevando a sobrecarga e precarizando ainda mais o trabalho”, disse Vinícius Camargo, da Federação Nacional dos Petroleiros.

“As mazelas que o trabalhador sofre são em todas as categorias”, concluiu Jô Araújo.  

 

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