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Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
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Imprensa SeebRio
“Os dados sobre o adoecimento psíquico nos bancos são alarmantes, dentre eles o de que 78% dos bancários fazem uso de medicamentos controlados. Antes, os problemas de saúde da categoria eram decorrentes de LER/Dort. Agora, são ansiedade e depressão”. O alerta foi feito pelo vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiros (Contraf-CUT), Vinícius Assumpção, nesta quinta-feira (13/4), durante a 1ª Conferência Intersetorial sobre Saúde e Trabalho bancário, realizada pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região e pela Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Fetrafi) em Porto Alegre (RS).
Em matéria do site da Contraf-CUT sobre o evento, o vice-presidente da confederação e ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, acrescentou que o índice de afastamento por doenças do trabalho, nas demais categorias, é de 15%, enquanto no meio bancário chega a 25%. Para ele, houve evoluções nos bancos, mas ainda insuficientes para garantir efetivamente melhores condições de trabalho. “Este tema é o principal debate na categoria atualmente e deve continuar assim nos próximos anos”, lamentou Vinícius.
Participaram da conferência cerca de 300 pessoas, entre bancários e bancárias da capital e do interior gaúcho, além de outros estados: Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Pará, Ceará, Alagoas e Bahia.
Na abertura do evento, foi lançado o documentário: “Além do limite – quando a meta é sobreviver”, dirigido pelo jornalista Marcelo Monteiro. O filme aborda a triste realidade enfrentada pela categoria bancária, com relatos de diversos casos de adoecimento psicológico, alguns culminando em suicídio.
Metas e adoecimento
O objetivo principal do evento foi ampliar o debate sobre o aumento do adoecimento psíquico provocado pela pressão exercida sobre os bancários e bancárias pelos bancos, principalmente pelo atingimento de metas abusivas. Edelson Figueiredo, diretor da Secretaria de Saúde do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, participou da conferência e considerou gravíssima a situação da categoria.
“Debates como este são importantes para discutir este grave problema, definir estratégias de denúncia à sociedade sobre o que está acontecendo nos bancos, para cobrar dos órgãos do governo uma fiscalização mais intensa e do Congresso Nacional a aprovação de leis que revertam esta realidade que não pode ser naturalizada”, afirmou Edelson.
O dirigente lembrou que neste mês está em curso a campanha Menos Metas, Mais Saúde. Lembrou, ainda, que, como parte desta campanha estão sendo realizadas várias atividades para discutir o tema com a categoria bancária. “O Sindicato fez, no último dia 5 de abril, uma live com a participação do psicoterapeuta Rui Stockinger e do Secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, além do presidente do Sindicato do Rio, José Ferreira e da presidenta da Federa-RJ, Adriana Nalesso”, disse. Adiantou que como parte destas atividades haverá um novo debate virtual, do qual os bancários poderão participar, no próximo dia 27 de abril.
Medo e adoecimento
O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, também participou do evento. Ao site da Contraf-CUT, o dirigente avaliou que o grande número de bancários presentes à conferência, inclusive com a participação bastante representativa de colegas de todas as regiões do país do Coletivo Nacional de Saúde da Contraf-CUT, mostra a relevância do tema. “O evento deixou nítida a gravidade do alto número de adoecimento relacionado ao trabalho. Também debateu soluções para que essa situação não persista. Não é possível que trabalho seja sinônimo de medo, sofrimento e adoecimento”, afirmou.
“Temos uma Convenção Coletiva com muitas cláusulas de saúde conquistadas, mas a gente tem que lutar para que os bancos cumpram o que assinaram. E também cobrar ação das instituições responsáveis pela promoção de saúde e fiscalização dos ambientes de trabalho”, apontou Mauro Salles.
É hora de agir
Depois da exibição do documentário: “Além do limite – quando a meta é sobreviver”, do jornalista Marcelo Monteiro, foi promovido um bate-papo, com perguntas do público que foram respondidas pelo diretor do documentário; pela coordenadora do Grupo de Ação Solidária (GAS) do Departamento de Saúde do SindBancários, Jaceia Netz; pelo psicólogo do Departamento, André Guerra; pela bancária e integrante do GAS, Rosecler Carvalho, que auxiliou na produção do filme; e pela secretária de Saúde da Fetec-CUT Paraná, Vanderléia de Paula.
Monteiro explicou que a ideia do filme surgiu após ele ter enfrentado a depressão, com grande impacto no âmbito profissional, além do fato de ter um tio bancário, o que o estimulou a abordar a situação de saúde mental no setor. “Espero que esse documentário seja aquele sinal; que sirva para as pessoas que eventualmente estejam passando por isso ou vendo algum colega passar por isso, que desperte nas pessoas o sentido de que é hora de agir”, ressaltou.
Guerra avaliou que o cenário encontrado no meio bancário reflete a sociedade como um todo, por ser uma questão estrutural, consequente do sistema capitalista, cuja ideologia gera adoecimento ao naturalizar a indignidade no ambiente de trabalho. “Esse processo é o mais difícil, de despatologizar os indivíduos e patologizar as organizações”, destacou. Conforme o psicólogo, é importante entender o contexto e os fatores geradores do adoecimento. Ele defende que a lógica de focar apenas em métodos de tratamento para doenças é insuficiente, que é necessário ampliar o debate para formas de prevenção. “O nosso problema não é o adoecimento mental da categoria, o problema que a gente enfrenta no mundo do trabalho hoje não é nem um problema de saúde, é um problema ético/político, de violação da dignidade das pessoas”, pontuou.
Jaceia destacou a dificuldade que a categoria enfrenta ao buscar auxílio junto à Previdência Social. “Quem atua com saúde do trabalhador sabe que o banco adoece e o INSS enterra. Ocorre uma desproteção por parte de quem deveria cuidar dos trabalhadores”, disse. Ela também reforçou a importância do trabalho realizado pelo GAS, que acolhe bancários e bancárias que sofrem situações como assédio no ambiente bancário.