Quarta, 29 Março 2023 11:53

Brasil ultrapassa 700 mil mortes por covid-19

Fake news, campanha contra vacinas e demora na compra de imunizantes elevou drasticamente o número de mortos
O personagem Zé Gotinha voltou a fazer parte da campanha do Ministério da Saúde para incentivar as imunizações no país. Lula tomou a dose de reforço contra a covid-19 aplicada pelo médico e vice-presidente do país, Geraldo Alckmin O personagem Zé Gotinha voltou a fazer parte da campanha do Ministério da Saúde para incentivar as imunizações no país. Lula tomou a dose de reforço contra a covid-19 aplicada pelo médico e vice-presidente do país, Geraldo Alckmin Foto: Ricardo Stucker

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio 

Com informações da CUT

O Brasil chegou a um triste dado na última terça-feira (28): ultrapassou oficialmente a marca de 700 mil mortes pela covid-19. Ao longo de toda a pandemia os números de casos e óbitos tiveram de ser computados por um consórcio das secretarias estaduais de saúde e a imprensa, já que o governo anterior se negou a divulgar os dados. Deste total de vidas ceifadas, 693 mil morreram durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Até o fim da gestão anterior o país ocupava o segundo em lugar em mortes no mundo pelo novo coronavírus. Atualmente está em 11º no ranking. Muitas vidas poderiam ter sido salvas se não fosse a campanha pessoal do ex-presidente em lives contra a vacina e a demora de seu governo em comprar os imunizantes.

Militares e superfaturamento

Não dá para esquecer que a Pfizer enviou dezenas de email ao governo brasileiro que sequer foram respondidos no início da pandemia. Na época, o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazzuello alegou, na CPI da Pandemia, em 2021, que não comprou os lotes porque “buscava preços mais baratos” e que ainda “não havia a liberação da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária”, órgão brasileiro responsável pela aprovação das vacinas. No entanto, as investigações da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) mostraram que a decisão envolvia a compra de vacinas superfaturadas da indiana, Covaxin, que teria custado 1.000% mais caro que do que o valor, seis meses anunciado pelo próprio fabricante. O superfaturamento teria envolvido militares do alto escalão do Ministério da Saúde. O imunizante também não tinha a aprovação da Anvisa. Com a divulgação do escândalo pela imprensa, o governo Bolsonaro suspendeu as compras superfaturadas.

Consequências do negacionismo

No caso da covid, muitas mortes poderiam ter sido evitadas na avaliação de especialistas e da opinião pública nacional e estrangeira, em casos como o do Brasil e dos EUA, em que os então presidentes, Trump e Bolsonaro,  fizeram campanhas pessoais contra as vacinas e desprezaram o poder avassalador da pandemia.  

“Poderíamos, por exemplo, ter tido uma vacinação mais rápida e efetiva, com comunicação mais adequada junto à população, sem discussão desnecessária e ruídos que geraram dúvidas e levaram as pessoas a não se vacinar”, explicou o coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes.

A atual ministra da Saúde, Nísia Trindade destacou que a tragédia agravada pelas mentiras e pela negação da ciência não podem ser esquecida.

“Essa lembrança tem que contribuir com a reparação da dor e, ao mesmo tempo, contribuir na união pelo futuro. Estamos unidos hoje pela vacinação. A vacina salva vidas”, disse em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

“Claro que no mundo todo houve dificuldade nos momentos iniciais da pandemia, mas nada justifica que um país que tem a 11ª maior população do mundo, tenha sido o quinto em número de mortes”, concluiu.

A volta do Zé Gotinha

O governo Lula tenta ganhar o tempo perdido pela campanha negacionista de Bolsonaro, que levou a uma drástica redução nas imunizações contra várias doenças no país, onde o SUS (Sistema Único de Saúde) tem, historicamente, reconhecimento internacional por sua eficiência. Muitas pessoas ainda têm medo de se vacinar ou imunizar os filhos por causa de fake news espalhadas nas redes sociais. Ameaças e insinuações de mau gosto, como a de que quem se vacinasse contra a covid “viraria jacaré” e até que “contrairia o vírus do HIV” foram espalhadas velozmente através do chamado gabinete das fakes news, aumentando o número de mortos de pessoas que não se negaram a receber as doses.

As falsas notícias reduziram a cobertura de vacinas no Brasil. É o caso da vacinação infantil, que caiu de uma cobertura de 93,1% para 71,49%. Até a figura do tradicional “Zé Gotinha” voltou às campanhas do Ministério da Saúde para reverter este quadro.

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