Qual a lógica dos economistas, segundo Cláudia Moreno, do C6 Bank e de Marcos Caruso, do Banco Original:
Eles recorreram a um truque estatístico.
De julho a setembro do ano passado, houve a desoneração da combustíveis e energia, gerando uma deflação. Agora, na medida em que esses três meses vão saindo da conta anual, o IPCA tende a crescer. E aí, apresentam suas projeções, com o IPCA até dezembro, portanto expurgado da deflação do ano passado, mostrando um aumento do IPCA. Se o IPCA anual volta a crescer, significa que a Selic tem que ser mantida.
Onde está o erro de lógica?
O sistema de metas inflacionárias mede o ritmo de evolução dos preços afetados pela demanda. Obviamente o preço dos combustíveis e da energia refletem exclusivamente uma decisão administrativa do governo.
O expurgo provocou uma deflação nos três meses do ano passado – provocada exclusivamente pela decisão de reduzir o preço dos combustíveis. E os demais preços, como se comportaram? Para analisar o ritmo real de preços, há a necessidade de expurgar o combustível, para ver como se comporta o Índice Geral sem esses pontos fora da curva.
Fiz as contas em cima do IPCA-15, divulgado na sexta-feira. Confira o resultado.
De fato, se desconsiderasse a deflação dos três meses passados, em vez de 5,4%, o IPCA anual ficaria em 6,1%. Mas o que interessa na conta é saber o comportamento do IPCA, sem a interferência do governo. Para tanto, calculei o Índice Geral expurgando o efeito do grupo Combustíveis. Faz-se isso calculando o impacto do combustível a cada mês, correspondendo à variação do grupo vezes o peso no orçamento das famílias mês a mês.
O resultado é esse, 9 meses com queda no índice acumulado de 12 meses. O mesmo ritmo de queda do índice cheio.
Se analisar os demais grupos, percebe-se que há alguma pressão apenas em Educação e Saúde.
Portanto, o argumento de ambos, em favor da manutenção da taxa Selic, não se sustenta.