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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Publicado: 01 Março, 2023 - 16h28 | Última modificação: 01 Março, 2023 - 16h42
Escrito por: CUT-RS | Editado por: Rosely Rocha
O vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, que fez um discurso questionando a repercussão do resgate de empregados em situação de escravidão e ofendendo trabalhadores baianos, foi expulso do Patriota nesta quarta-feira (1º). De acordo com o partido, o pronunciamento de Fantinel foi "desrespeitoso e inaceitável" e "está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem, ao trabalho".
Ele também pode ser cassado. O ex-vice-prefeito da cidade, Ricardo Fabris de Abreu, protocolou nesta quarta-feira o primeiro pedido de cassação do mandato do vereador. "Caxias do Sul e o Rio Grande do Sul são agora vergonha nacional, acusados de serem locais racistas, extremistas e xenófobos", disse. Segundo o pedido, "o vereador (Fantinel) não merece ser um representante deste município".
As bancadas do PT, PDT e PSD devem protocolar um novo pedido de cassação de Fantinel ainda na tarde desta quarta.
Já a Polícia Civil instaurou inquérito na manhã desta quarta. A 1ª Delegacia de Polícia encaminhou um ofício ao presidente da Câmara, vereador Zé Dambrós (PSB), para solicitar as imagens do discuso e o conteúdo do pronunciamento feito pelo vereador.
O caso
Ao comentar o resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, o parlamentar defendeu que agricultores, produtores e empresas da região "não contratem mais aquela gente lá de cima", em referência ao Nordeste, especialmente ao estado da Bahia, de onde vieram a maioria das vítimas.
Falando na tribuna da Câmara, o vereador afirmou que a cultura do povo baiano é "viver na praia tocando tambor". Ele sugeriu a contratação de argentinos, alegando que “são limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário e ainda agradecem o patrão”, ao contrário dos nordestinos.
Não nos representa e deve ter uma resposta à altura do Legislativo”
Para a secretária de Movimentos Sociais da CUT-RS e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul, Silvana Piroli, “é inadmissível ouvir na Casa do Povo um vereador que agride os trabalhadores e as trabalhadoras”.
SILVANA PIROLI-1 Foto: Sindiserv Caxias do Sul
“Tenho certeza que a maioria da Câmara não pensa assim, pois esse tipo de comportamento não é do povo de Caxias. Fantinel não nos representa e deve ter uma resposta à altura do Legislativo”, disse a sindicalista.
Silvana lembra que “Caxias se desenvolveu com o trabalho de homens e mulheres e pagar um salário digno é mínimo que espera. Que isso não mais se repita em nenhum espaço público”.
Vereadores de Caxias pedem desculpas ao povo baiano
No início da sessão desta quarta-feira (1º), o vereador Rafael Bueno (PDT) leu um ofício proposto pelas bancadas do PT, PDT e PSD, cobrando posição da Câmara. O texto foi depois assinado por todos os vereadores, exceto Fantinel que não compareceu.
Segundo o documento, “a Câmara Municipal de Caxias do Sul é a Casa da Representatividade e do Respeito. Por isso, a Mesa Diretora não compactua com nenhuma manifestação de preconceito, discriminação, racismo ou xenofobia”.
“Em decorrência do pronunciamento do vereador Sandro Fantinel/PATRIOTA em relação a trabalhadores baianos, na sessão ordinária da última terça-feira (28/02), ressaltamos que foi um posicionamento individual do parlamentar. Não traduz o pensamento e os valores da instituição e nem da totalidade dos vereadores", explica.
"Também pedimos desculpas ao povo baiano e a todos os migrantes que se sentiram atacados, destacando que são todos muito bem-vindos em nossa Caxias do Sul", destaca o texto.
“Xenófobo e nojento”
Os governadores do Rio Grande do Sul e da Bahia repudiaram o pronunciamento de Fantinel. Por meio do Twitter, o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) classificou o discurso como "xenófobo e nojento", frisando que a fala do vereador caxiense "não representa o povo do Rio Grande do Sul".
"Não admitiremos esse ódio, intolerância e desrespeito na política e na sociedade", disse. Leite ainda escreveu na rede social que buscará autoridades baianas para que venham ao Estado acompanhar as medidas para "banir o preconceito".
Para o governador da Bahia, “é desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana. Determinei, portanto, a adoção de medidas cabíveis para que o vereador seja responsabilizado pela sua fala”.
O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), também se manifestou nas redes sociais.
“O RS e o Brasil não são lugares para racistas, escravocratas”
O deputado estadual Leonel Radde (PT) afirmou, em publicação nas redes sociais, que registrou um boletim de ocorrência na polícia contra o vereador e disse que "o Rio Grande do Sul e o Brasil não são lugares para racistas, escravocratas".
A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) anunciou que o partido irá apresentar um pedido de cassação do mandato do parlamentar. "Precisa ser preso e ter seu mandato cassado, e nós vamos lutar por isso", antecipou.
“Nordeste merece respeito”
O senador baiano Jaques Wagner (PT) também se manifestou nas redes sociais, repudiando os fatos envolvendo trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão e o discurso racista e xenófobo do vereador caxiense.
O senador pernambucano Humberto Costa (PT) também se manifestou e afirmou que entrou com uma representação junto ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) para apurar "crime de racismo cometido pelo vereador bolsonarista Sandro Fantinel".
"Além disso, também estou entrando com uma representação junto ao MPT (Ministério Público do Trabalho) por danos morais coletivos. O Nordeste merece respeito! Não vamos permitir que tamanha agressão fique impune", declarou o senador.