Terça, 07 Fevereiro 2023 15:22

Lula critica política de juros do BC ‘autônomo’

Presidente eleito declarou que não considera a chamada autonomia da instituição como intocável e quer rediscutir o tema com a sociedade
Lula criticou os juros altos no Brasil e a autonomia do BC. Roberto Campos Neto, presidente da instituição, nos EUA, defende o atual modelo da política monetária controlada pelo sistema financeiro Lula criticou os juros altos no Brasil e a autonomia do BC. Roberto Campos Neto, presidente da instituição, nos EUA, defende o atual modelo da política monetária controlada pelo sistema financeiro

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a política de altos juros do Banco Central e previsões da instituição comandada pelo banqueiro Roberto Campos Neto, que trabalhou 18 anos no Santander, de que a inflação deverá subir. Especialistas estimam a alta inflacionária para este ano, de 5,74% para 5,78%. E o brasileiro já fica apavorado com as dívidas do cartão de crédito, pois sobe a inflação, os bancos elevam ainda mais as taxas de juros.

A falácia da ‘autonomia’

Lula tem feito pesadas críticas à política monetária, que após a autonomia do BC criada pelo então ministro da Economia de Bolsonaro, o também banqueiro Paulo Guedes, ficou sob o controle absoluto do cartel dos bancos.

“Essa ingerência dos bancos privados na política monetária só existe no Brasil. O presidente da República tem toda a razão em criticar a direção do BC e a sociedade precisa se mobilizar para acabar com essa falácia que é a ‘autonomia’ do banco responsável pelos juros no país, na verdade controlado pelo cartel dos bancos”, avalia a vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio, Kátia Branco.

O presidente eleito criticou também a projeção de alta da inflação feita pela instituição durante a posse de Aloizio Mercadante no BNDES,  que “não há justificativa para a Selic de 13,75% ao ano” e o “juro alto é uma vergonha”.

A crítica do presidente eleito não é apenas em relação às taxas aplicadas pelo sistema financeiro nacional para pessoas físicas, mas também para empresas.

“Como vou pedir que os empresários ligados à Fiesp – Federação Nacional das Indústrias – invistam, se eles não conseguem tomar dinheiro emprestado?”, questionou, pedindo que os empresários cobrem juros mais baixos.   

“Quando o BC era dependente do meu governo a taxa era de 10% e diziam que era muito alta”, acrescentou, lembrando das promessas da cartilha neoliberal que prometia crédito mais barato com a chamada “autonomia” do BC.

Maiores juros do mundo

O Brasil é o líder no ranking dos juros reais mais altos do mundo, entre 156 países analisados, segundo números de 2022, último ano do governo Bolsonaro (8,16%), seguido do México (5,39%), Chile (4,66%), Hong Kong (3,12%), Colômbia (2,39%) e Filipinas (2,21%). Em juros nominais, o Brasil é o segundo do ranking (13,75%), atrás apenas da Argentina (75% ao ano) e seguido da Hungria (13% ao ano).

“Quando a inflação baixa, nem sempre os bancos baixam os juros, quando sobe, o BC trata logo de subir a taxa básica, promovendo um efeito cascata de uma alta ainda maior dos juros. Ninguém aguenta mais. Nem o setor produtivo e muito menos a população. O Brasil precisa praticar juros condizentes com o resto do mundo, que são historicamente muito baixos”, completou Kátia.

O Brasil tem hoje cerca de 6,3 milhões de empresas endividadas, um recorde histórico e 62 milhões de trabalhadores humilhados no SPC/Serasa.

Em evento nos EUA, Campos Neto, evitou o embate com Lula e ressaltou “a importância da autonomia do Banco Central". Não é por menos. Os bancos brasileiros estão mais que satisfeitos com este modelo econômico em que só o rentismo ganha.  

 

Mídia