Quinta, 04 Dezembro 2025 17:23

Itaú diz que ida de bancários em licença médica para ACL não é obrigatória

Dirigentes do GT de Saúde e da COE. Dirigentes do GT de Saúde e da COE.

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Imprensa SeebRio

Os sindicatos têm recebido inúmeras reclamações de trabalhadores em licença médica convocados pelo Itaú para passar por uma Avaliação de Capacidade Laborativa (ACL), com ameaça de advertência em caso de não comparecimento. Nesta quarta-feira (3/12), o Grupo de Trabalho de Saúde dos empregados do Itaú se reuniu novamente com o banco, e cobrou na ocasião, explicações sobre este fato, e sobre o funcionamento do canal de denúncias de assédio, dificuldades no IU Conecta, descontos no contracheque e o programa Linha de Cuidado, apresentado pelo banco.

O movimento sindical questionou o banco, porque bancários com contrato suspenso — seja por estarem afastados ou com pedido de prorrogação de benefício — não podem ser submetidos a esse tipo de avaliação. Também foi levantada a situação de empregados que, mesmo após passarem por exame de retorno ao trabalho, estão sendo chamados novamente.

O banco afirmou que as avaliações servem para “entender o motivo do afastamento” e que seriam convocados apenas trabalhadores que já receberam alta do INSS ou aguardam novo benefício. Quanto aos casos de bancários com contrato suspenso que receberam mensagens, o Itaú disse que verificará o ocorrido e que a participação em ACL não é obrigatória nem passível de advertência.

Convocação indevida – Edelson Figueiredo, Secretário de Saúde do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e integrante do GT, classificou como ilegal a convocação. “O Itaú precisa respeitar a legislação. Convocar funcionários doentes para avaliação é uma pressão indevida que, em vez de antecipar, acaba retardando o retorno do trabalhador, pelo possível agravamento de sua doença. O Itaú tem que respeitar seus funcionários e as leis trabalhistas”, afirmou.

Mariza Izabel Menezes, coordenadora da COE dos bancários do Itaú, classificou a convocação de bancários em licença para tratamento de doença como assédio moral. E disse ser ainda mais absurda a ameaça de advertência a quem não comparecer.

Rosângela Lorenzetti, coordenadora do GT, reforçou que o banco precisa ser mais transparente e respeitar a legislação. “Temos visto bancários fragilizados, em tratamento, recebendo convocações indevidas e ameaças de advertência. É inadmissível. O Itaú precisa garantir que nenhum trabalhador com contrato suspenso seja pressionado ou exposto a práticas que aumentam o adoecimento”.

Melhorias urgentes no canal de denúncias – Outra preocupação recorrente é o canal utilizado pelos trabalhadores para denunciar situações de assédio moral e sexual. O GT cobrou sigilo, proteção ao denunciante e mais rapidez nas apurações. Além disso, os representantes dos trabalhadores criticaram o fluxo atual, em que o primeiro a ser ouvido é justamente o denunciado. O Itaú se comprometeu a levar o responsável pelo Ombudsman à próxima reunião para discutir ajustes.

Valeska Pincovai, também coordenadora da COE, destacou que o modelo atual não garante segurança aos denunciantes. “Um canal de denúncias só funciona se o trabalhador confiar nele. Hoje, essa confiança não existe. Precisamos de sigilo real, proteção contra retaliações e um fluxo que não exponha quem denuncia. O banco deve agir com responsabilidade para enfrentar o assédio”.

IU Conecta meia-bomba – Os sindicatos também relataram problemas enfrentados pelos bancários para anexar documentos no IU Conecta. E se mostraram surpresos com a alegação dos representantes do Itaú de que ‘a plataforma suporta apenas 2 megabytes por arquivo’ e que, quando há necessidade de enviar um novo atestado, ‘só é possível anexá-lo após o encerramento do anterior’.

Pressão do banco por e-mail sobre bancários de licença – O GT também tratou dos e-mails enviados pelo banco aos empregados que estão prestes a receber alta do INSS. O Itaú envia três comunicados antes da data prevista para o retorno, o que tem gerado sensação de pressão.

O banco enviará os textos ao GT para construção conjunta de uma comunicação mais clara e que não gere constrangimento ao trabalhador que ainda não sabe se estará apto.

Descontos durante afastamento – Outro problema recorrente são os descontos referentes a adiantamentos salariais nos períodos de afastamento. Após denúncias de inconsistências, o banco se comprometeu a levar, na próxima reunião, um representante da folha de pagamento para explicar as rubricas e esclarecer os valores descontados.

GT pede ajustes no Programa Linha de Cuidado – O Itaú apresentou ainda o programa Linha de Cuidado, em parceria com o Grupo Fleury. Nele, trabalhadores elegíveis passam por consulta com enfermeira generalista e, se necessário, são encaminhados para médico generalista e exames — que, no entanto, têm coparticipação pelo plano de saúde.

O GT sugeriu que, por se tratar de um programa do banco, os exames não deveriam gerar custos aos participantes. Rosângela Lorenzetti avaliou que o programa pode ser positivo, desde que não gere ônus ao trabalhador. “Todo projeto de cuidado em saúde é bem-vindo, mas é fundamental que não haja custos adicionais para quem já está enfrentando problemas de saúde. É papel do banco garantir suporte integral. Mas se o Itaú quer, de fato, prevenir adoecimentos, precisa também enfrentar as causas: acabar com as metas abusivas e com o assédio moral que adoece diariamente os bancários. Sem isso, qualquer programa de cuidado fica incompleto”, afirmou Rosângela.

 

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