Quarta, 08 Fevereiro 2023 17:35

Mesmo com rombo da Americanas, lucro do Itaú vai a mais de R$ 30 bilhões

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

O Itaú decidiu antecipar-se e fez uma provisão lançada no quarto trimestre de 2022 para fazer frente ao rombo das Lojas Americanas – descoberto em janeiro último – da qual é um dos credores. Mesmo assim, o lucro líquido gerencial acumulado do banco privado no ano de 2022 foi escandaloso: R$ 30,786 bilhões, um aumento de 14,5% em relação ao resultado de 2021.

Para Maria Izabel Menezes, dirigente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e da Comissão de Organização dos Empregados (COE) o resultado expressivo atingido graças ao trabalho dos bancários, mostra, mais uma vez, que o Itaú não tem como justificar a continuidade do fechamento de agências e demissões. E que a rentabilidade permite ao banco contratar, melhorar as condições de trabalho e os salários.

Juros absurdos

Os juros nas alturas permitiram que o Itaú tivesse uma lucratividade tão grande. Ele empresta a taxas absurdas o dinheiro dos clientes a custo zero na conta-corrente, ou aplicado, mas com rentabilidade muito abaixo das taxas dos empréstimos. Ganha muito nessa margem financeira. O banco lucrou também com a Selic (a taxa básica de juros definida pelo Banco Central), que foi mantida em 13,75%, a mais alta do mundo, aumentando seus ganhos bilionários com a dívida pública.

“No mesmo sentido, tivemos o impacto positivo da Selic e do maior volume de depósitos em nossa margem de passivos e da taxa de juros pré-fixada em nosso capital de giro próprio, parcialmente compensado por menores spreads na carteira de crédito”, informou o banco.

PLR

Mesmo com um lucro destes, o Itaú decidiu, mais uma vez, não antecipar o pagamento da PLR, negando solicitação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e sindicatos a ela filiados, como o do Rio de Janeiro. A data do crédito foi mantida em 1 de março, e será feito junto com os programas próprios.

Redução de pessoal, aumento de tarifa

Além de manter salários arrochados, o Itaú ampliou o uso de canais digitais, cortando custos, mas sem fazer com que isto se refletisse na queda das tarifas cobradas aos clientes. Pelo contrário, a receita com prestação de serviços e tarifas bancárias cresceu 7,8% em doze meses, totalizando R$ 46,631 bilhões.

Desta forma, esta receita bilionária cobriu todas as despesas com pessoal e ainda sobraram 61% do arrecadado para o banco o que se refletiu no seu lucro. Mesmo assim, os serviços presenciais pioraram com filas no autoatendimento e maior tempo de espera para atendimento por bancários e bancárias nas agências, devido a demissões e fechamento de unidades físicas.

Isto pode ser explicado com informações do próprio balanço. O relatório do Itaú informa que ao final de 2022, a holding contava com 89.147 empregados no país, com abertura de 1.806 postos de trabalho em doze meses.

No entanto, esse saldo se deve à ampliação, não do número de bancários nas agências, mas no de assessores de investimentos e a contratações para a área de TI, visando acelerar o processo de transformação digital. Como parte deste movimento, foram fechadas 240 agências físicas no Brasil e abertas 179 agências digitais no período, totalizando 2.786 e 402 unidades, respectivamente.

Antecipação de PDD

A antecipação do aumento da PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) devido ao rombo das Americanas para o balanço do ano passado, quando a fraude foi conhecida em 11 de janeiro deste ano, fez com que no quarto trimestre de 2022, o resultado recorrente fosse de R$ 7,668 bilhões, frente a R$ 8,079 bilhões no 3º trimestre.

De acordo com o relatório do banco, “no 4º trimestre de 2022, reconhecemos em nossas demonstrações financeiras os impactos provenientes de evento subsequente a data do fechamento relacionado a um caso específico de empresa de grande porte que entrou em recuperação judicial”. Muito provavelmente, o impacto refere-se ao caso das Lojas Americanas.

Por conta disso, “houve reforço na Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa para cobrir 100% da exposição, gerando um impacto de R$ 719 milhões no resultado recorrente gerencial, com a diferença para a exposição total sendo reconhecida na provisão complementar. Excluindo-se esse efeito, o resultado recorrente gerencial teria atingido R$ 8,4 bilhões [no trimestre]”.

 

 

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