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Causou perplexidade e revolta o comentário feito por Jair Bolsonaro (PL) de que não havia nada contundente nos depoimentos feitos por empregadas da Caixa Econômica Federal relatando o assédio sexual e moral que sofreram por parte do presidente afastado do banco, Pedro Guimarães. Aliado e amigo pessoal do presidente, teve que deixar o comando da Caixa após forte pressão causada pela revelação de denúncias de assédio cometido enquanto presidente do banco.
Em nota, as vítimas de assédio de Guimarães dizem, "ser motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para 'massagens', 'banhos de piscina' ou idas a 'saunas' sejam naturalizados e tidos, repetimos, como 'não contundentes' pelo Chefe do Poder Executivo".
Irresponsável
A diretora do Sindicato, Sônia Eymard, condenou a declaração de Bolsonaro. “Não bastasse toda a violência moral e sexual que as empregadas da Caixa receberam, Bolsonaro as violenta mais uma vez com sua fala irresponsável e insensível”, afirmou.
A jornalista Andreia Sadi, da Globonews, lembrou que a situação ficou insustentável para Guimarães logo após as denúncias de assédio sexual feitas por três empregadas e de assédio moral por mais nove. Tentando minimizar o escândalo, Bolsonaro disse ao portal Metrópoles: “Não vi nenhum depoimento contundente de qualquer mulher. Vi depoimentos de mulheres que sugeriram que isso poderia ter acontecido. Está sendo investigado também”
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) também rebateu as declarações. “Postura inadmissível para qualquer um, ainda mais para um presidente. Lamentavelmente, não é de se espantar, afinal, não é a primeira vez. Vamos tirar a faixa desse presidente que desrespeita e tira a voz de todas nós, mulheres. Não defende as vítimas, dá voz ao agressor e ainda relativiza as denúncias”, afirmou a senadora na sua conta do Twitter. Tebet apoia o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições 2022.
‘Não vamos nos calar’
Na nota, as empregadas vítimas do assédio acrescentam que não vão se calar, apesar de posicionamentos como os de Bolsonaro. "Assim como em suas duras e desprezíveis palavras, fomos desacreditadas e relegadas à nossa própria sorte pela instituição que deveria garantir nossa integridade. Mas não nos calamos e não iremos nos calar."
As advogadas que representam as vítimas afirmam ser estarrecedor Bolsonaro dizer que "não sejam contundentes atos relatados e atribuídos ao presidente de uma instituição do porte da Caixa, que deveria ter instrumentos de controle e governança eficientes, consistentes em violações profundas aos corpos, às imagens e à intimidade de servidoras do órgão".
Leia na íntegra a nota das vítimas de assédio sexual na Caixa
"À vista de recente entrevista concedida pelo Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, ao Portal Metrópoles na qual é por ele afirmado não existir “nada de contundente” nas denúncias feitas naquele que ficou publicamente conhecido como o ESCÂNDALO DE ASSÉDIO SEXUAL NA CAIXA e no qual é investigado o ex-presidente daquele órgão, Sr.Pedro Guimarães, em nome e a pedido das VÍTIMAS que representamos na esfera criminal neste caso, temos a dizer:
Um, ser estarrecedor que para o Mandatário da nação não sejam contundentes atos relatados e atribuídos ao presidente de uma instituição do porte da Caixa, que deveria ter instrumentos de controle e governança eficientes, consistentes em violações profundas aos corpos, às imagens e à intimidade de servidoras do órgão;
Dois, ser motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para ''massagens'', ''banhos de piscina'' ou idas a ''saunas'' sejam naturalizados e tidos, repetimos, como ''não contundentes'' pelo Chefe do Poder Executivo;
Três, acima de tudo, é motivo de indignação e revolta que, ao minimizar a dor e o sofrimento já expressos em inúmeros depoimentos perante a Corregedoria da Caixa, o Ministério Público do Trabalho e, no âmbito criminal, o Ministério Público Federal, as VÍTIMAS tenham sua PALAVRA posta em dúvida em contribuição ao processo de REVITIMIZAÇÃO que um Presidente da República deveria ter como compromisso combater.
Por fim, em respeito à voz das VÍTIMAS reproduzimos integralmente parte de sua manifestação: “Seria contundente, senhor Presidente da República, se o fato ocorresse com sua esposa ou filha? Acreditamos que sim.
Pois saiba que além de mulheres, também somos esposas, filhas, mães e profissionais que foram abusadas, lesadas e agredidas pela conduta de alguém que deveria ser líder, mas que optou por ser algoz. E, assim como em suas duras e desprezíveis palavras, fomos desacreditadas e relegadas à nossa própria sorte pela instituição que deveria garantir nossa integridade. Mas não nos calamos e não iremos nos calar. A verdade, apenas a verdade, é suficientemente contundente para fazer justiça e para que outras mulheres não sofram o mesmo que nós."
Brasília, 25 de outubro de 2022"
*Com informações do site Metrópoles, jornal Correio Braziliense e da Globonews.