Sexta, 29 Outubro 2021 19:41

Caixa expõe grupo de risco à covid e estimula a competição entre colegas

Olyntho Contente

(Com informações da Contraf-CUT)

Dois temas acabaram sendo o foco dos debates entre a Comissão Executiva dos Empregados (CEE) e representantes da Caixa Econômica Federal, nesta quinta-feira (28/10): a absurda decisão da diretoria do banco de convocar para o trabalhado presencial os empregados do grupo de risco, expondo-os à contaminação do novo coronavírus, e a imposição de retrocessos na Gestão de Desempenho de Pessoas (GDP) que acabam jogando os funcionários, uns contra os outros ao incentivar a concorrência na venda de produtos.

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Logo no início da reunião, a coordenadora da CEE, Fabiana Uehara Proscholdt,  ressaltou que a Caixa é o único banco que convocou até mesmo os empregados que fazem parte do grupo de risco para o retorno ao presencial e reforçou o pedido de prorrogação do prazo para as pessoas solicitarem a manutenção do trabalho em home office, para dar mais tempo para a obtenção do laudo médico indicando a necessidade de permanecerem trabalhando em casa.

Os cientistas afirmam que o retorno somente deve acontecer quando pelo menos 70% da população estiver vacinada e o grupo de risco com a dose de reforço, e que mães com filhos menores de um ano também devem permanecer em home office, uma vez que é muito curto o tempo para a recolocação das crianças em creches devido à falta e vagas. A CEE lembrou que o retorno de todos os empregados, ainda mais em função do fechamento de agências e prédios, eleva ainda mais os riscos de contaminação, devido à aglomeração.

Retrocessos na GDP

Segundo a coordenadora da CEE, a própria Caixa reconheceu que os novos mecanismos da GDP, como a chamada “curva forçada”, visam mudar a cultura dos empregados da Caixa, um banco público com objetivos sociais, estabelecendo valores empresariais de mercado e forçando a competição pela venda de produtos.

Fabiana disse que apesar do movimento sindical discordar da GDP, sabe que se trata de um mecanismo que a CEF utiliza para gestão. “Ao contrário do que pensa o banco, queremos discutir sim a GDP. Se o banco vai utilizar esta ferramenta para a gestão do desempenho de seus empregados, queremos discutir formas para que a ferramenta não seja utilizada para o assédio, o ranking, enfim, como forma de medir apenas a capacidade de venda de produtos, sem avaliar o desempenho como um todo”, disse.

A Caixa alegou ter feito uma pesquisa na qual os entrevistados disseram concordar com a GDP, seus mecanismos e apontaram problemas pontuais. Disse também o que o banco quer com a GDP e como funcionam os novos mecanismos de “gestão” implementados agora em 2021. Segundo uma representante da Caixa, o banco quer que seus empregados tenham “valores empresariais” e a “curva forçada”, visa mudar a cultura de trabalho e aumentar o interesse de ascensão profissional, ao ajudá-lo a se comparar com os demais.’

‘Curva forçada’ é assédio

A CEE disse que o problema do modelo não é pontual, como a direção do banco quer fazer parecer, mas sim estrutural. Disse que a mudança cultural, que os representantes do banco admitem que pretendem promover através dos retrocessos na GDP, é uma violência com os empregados, e que, como efeito, os está levando ao adoecimento.

O representante da Federação dos Bancários do Estado do Rio de Janeiro (Federa/RJ), Rogério Campanate, foi taxativo ao falar sobre a curva forçada. “É um mecanismo retrógado, que parte do princípio que 5% não atende aos requisitos exigidos pela Caixa, que na verdade tratam-se apenas de apontar quem vende e quem não vende. É um mecanismo que reforça e abre possibilidades para o assédio moral e o ranking de pessoas, que é proibido pela nossa Convenção Coletiva”, observou o dirigente da Federa/RJ.

O resultado da “curva forçada” onde foi implantada foi a desagregação das equipes e a piora do clima organizacional. A ferramenta, criada para demitir, foi abandonada pelo mercado. Na Caixa tem gerado a revolta dos empregados, já que acaba sendo uma fonte de assédio moral institucional, para que sejam vendidos produtos que não interessam aos clientes. A CEE enxerga neste expediente, uma forma de acabar com a estabilidade que têm os empregados do banco em função de terem sido admitidos por concurso.

A representação dos empregados apontou ainda casos de chefias de agências, com autorização de superintendentes, que têm feito ranking de funcionários e inclusive colocado tais rankings em grupos nas redes sociais e chats privados de comunicação (WhatsApp) e utilizado a ferramenta de “sprints” para forçar a “venda casada” de produtos aos clientes sem que os mesmos tenham necessidade. 

“Nossa sugestão é fazermos uma pesquisa conjunta sobre o programa de Gestão de Desempenho de Pessoas e os mecanismos utilizados por ele. Se a Caixa quer mesmo saber o que os empregados acham da GDP e valoriza tanto nossos apontamentos, vamos juntos construir uma pesquisa e ouvir o que os empregados têm a dizer”, sugeriu a coordenadora da CEE.

A próxima reunião de negociações não foi marcada. O banco entrará em contato com a coordenação da CEE durante a próxima semana para agendar a nova data.

 

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