Terça, 25 Junho 2024 18:38

Mudança de nome de agência da Caixa para Pequena África resgata história da comunidade na região do Valongo

Bancários querem ainda o fim do racismo, a igualdade de oportunidades e políticas afirmativas que permitam negros e negras ocuparem cargos de decisão nos bancos
Empregados e empregadas da Caixa comemoram mudança do nome de agência que fica na região da 'Pequena África ', na região portuária do Rio Empregados e empregadas da Caixa comemoram mudança do nome de agência que fica na região da 'Pequena África ', na região portuária do Rio Foto: Divulgação

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

No último dia 13 de junho, funcionários e funcionárias da antiga Agência Barão de Tefé, da Caixa Econômica Federal, no Centro do Rio de Janeiro, viveram um momento histórico na luta contra o reconhecimento da história da comunidade negra no Brasil: a cerimônia do rebatismo da unidade, que passou a se chamar Pequena África. A iniciativa foi da Superintendência Capital Rio de Janeiro. Estiveram presentes autoridades federais, estaduais e locais que tratam das questões raciais, bem como os representantes dos bancários e bancárias negros e negras da empresa.

Na abertura do evento, Sérgio Sales, superintendente da Caixa destacou a importância e o comprometimento da instituição pelo reconhecimento cultural e resgate histórico.

A mudança do nome está relacionada a campanha dos movimentos negros pelo resgate da história do bairro que se chama Pequena África (bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo), que fica na zona portuária da cidade do Rio de Janeiro. 

A região é palco de uma expressiva presença de negros e negras escravizados alforriados e comunidades quilombolas. Entre 1850 a 1920 permaneceram trabalhando na região mesmo após o comércio de escravos se tornar ilegal no Brasil, em 1831. 

Patrimônio cultural 

A comunidade preta ergueu ali casarões, espaços de convívio cotidiano e centros religiosos cujos resquícios arquitetônics são um verdadeiro patrimônio histórico e cultural da cidade, no chamado Cais do Valongo. 

"Esta mudança da troca do nome da agência que era de um escravocrata para a 'Pequena África' é um vitória para todos os negros e negras e vamos continuar a luta para que por fim ao preconceito contra negras e negros e pela igualdade de oportunidades e políticas de ações afirmativas na Caixa e em todas as instituições bancárias. Queremos nossa comunidade ocupando cargos de decisão nas empresas", explica o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar, que junto com os diretores do Sindicato,

O dirigente sindical destaca ainda a importância dos compromissos firmados no VII Fórum pela Visibilidade Negra no sistema financeiro, que prpòem um protocolo de intenções entre os bancos públicos e os Ministérios da Igualdade Racial e da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, para promover a reserva de 30% dos cargos de confiança no ramo financeiro para cotas raciais, atendendo ao Decreto 11.443/2023, que dispõe sobre o preenchimento por pessoas negras de percentual mínimo de cargos em comissão e funções de confiança no âmbito da Administração Pública Federal.

"Estamos em campanha salarial e os sindicatos cobram o cumprimento destes compromissos propostos no último fórum pela visibilidade negra no setor financeiro", acrescentou Almir. 

Rogério Campanate e Sérgio Amorim também  participaram da cerimônia de mudança de nome da agência.  

Grupo Caixa Preta 

Na Caixa foi criado um movimento em defesa da comunidade negra na empresa, o grupo Caixa Preta. 

Gustavo Neves, funcionário da Caixa desde 2004 e gerente há 10 anos, explica um dos fatos que inspiraram a criação do movimento negro no banco. 

"Após ser convidado a participar de uma reunião exclusiva dos gerentes-gerais do Rio de Janeiro e eu à época estava como substituto. Quando cheguei, olhei em volta. Parecia que eu estava na Europa, só tinha três gerentes negros, duas mulheres e um homem, numa reunião com mais de 160 gerentes-gerais presentes", explicou.

A diretora do Sindicato do Rio, Carla Guimarães, que também faz parte do Grupo Caixa Preta, falou da importância da visibilidade negra nos bancos.

"Esta mudança de nome da agência é um resgate histórico que está dentro do contexto desta retomada de todo o patrimônio histórico e cultural da comunidade negra nesta região da cidade. Mas é preciso também garantir a negras e negros o acesso aos cargos de comando nos bancos e a igualdade de oportunidades ", disse Carla. 

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