Sexta, 30 Outubro 2020 16:06

Bradesco rasga a lei e demite bancário doente e em licença-médica

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

Parece não haver limites legais e éticos para o Bradesco. Além do assédio moral, da pressão abusiva pelo cumprimento de metas e de demissões em massa no meio da pandemia rompendo acordo com o movimento sindical bancário, decidiu ignorar de vez as leis, aumentando ainda mais o número de dispensas de bancários doentes e em licença-médica em função do trabalho, situação em que não é permitido demitir. E faz isto às vésperas do Natal, enquanto deseja, em sua propaganda, muita paz e prosperidade a todos.

O caso mais recente foi o do gerente Herbert Christian da Costa Correa, que se encontra em licença-médica, em função dos danos psicológicos que teriam sido causados à sua saúde pelo ambiente de trabalho adverso graças à pressão diária e sistemática. Pela lei, não poderia ser demitido em nenhuma hipótese. Um detalhe importante é que esta não foi a primeira vez em que foi demitido pelo Bradesco nesta situação de afastamento para tratamento médico, o que mostra a perversidade e o desrespeito para com a legislação e a vida humana.

O diretor do Sindicato, Sérgio Menezes, adiantou que serão tomadas as medidas necessárias para reintegrar o bancário. E condenou mais esta arbitrariedade do banco. “O Bradesco vai gastar milhões em publicidade hipócrita falando bem dele mesmo e colando árvores de Natal nas agências. Enquanto isto, impõe um Natal macabro para milhares de pais e mães de família demitindo-os de forma covarde em plena pandemia”, criticou.

Doença grave

Herbert sofre de síndrome do pânico, doença psiquiátrica cujos sintomas começaram a aparecer em 2014, causada, entre outros, por práticas como assédio moral, humilhações de superiores hierárquicos em reuniões presenciais e remotas, pressões abusivas por meta e desvio de função (Herbert trabalha como gerente mas tem a carteira assinada como caixa). Com o agravamento da doença, entrou de licença pela primeira vez pelo INSS naquele ano. Mesmo assim foi demitido ilegalmente durante a licença e reintegrado judicialmente pelo Sindicato em 2015, sendo a dispensa considerada nula pela Justiça. Na mesma ação o Bradesco foi obrigado a assinar sua carteira como gerente.

Em 15 de abril último, o fato voltou a acontecer. Recém-afastado e em licença-médica por uma reincidência de crise de pânico e tendo acabado de ter alta após ser contaminado pela covid-19, foi comunicado pela Gerência Regional Barra de que estava sendo, novamente, demitido e deveria comparecer para um exame demissional na mesma data, e em poucas horas. Ele trabalhava na agência Estrada do Tindiba.

Herbert conta ter informado que estava em licença médica com afastamento de 90 dias, saindo de um período de covid-19, ainda com dores no corpo e muito cansaço, mas recebeu a informação de que nada poderia ser feito, pois eram ordens da gerência regional. “Fui ameaçado. Disseram que se não comparecesse ao exame demissional naquela data, mesmo de licença, perderia meu direito ao plano de saúde do banco prorrogado por mais 6 meses aos que fossem demitidos”, denunciou.

Detalhes do assédio

Hebert comenta que o assédio era geral. “Entrei no Bradesco em 2011, e desde o início já era vítima dos inúmeros assédios que sofrem os funcionários desse banco, que veem seus empregos e a estabilidade financeira de suas famílias ameaçadas se não houver cumprimento de metas”, conta.

Lembra que quando trabalhou entre 2012 e 2014, contratado como caixa mas atuando como gerente Exclusive, assistiu muitos colegas, já emocionalmente desequilibrados, fazendo uso de diversos remédios controlados para conseguir começar o dia com as rotineiras áudio-conferências dos gerentes regionais. “Muitas vezes não só exigiam que prometêssemos um número de produtos a entregar no fim do dia, mas também nos impediam de sair da agência até que cumpríssemos o que queriam, nos deixando em cárcere privado”, denuncia.

Acrescenta que quando as metas eram alcançadas, recebiam tapinhas nas costas, ou um convite para um almoço. “Quando não, éramos humilhados em reuniões com todos os demais gerentes seja presencialmente, ou em audioconferências”, afirma.

Lembra que com tudo o que sofreu, começou a apresentar um quadro de ansiedade, que não demorou muito a evoluir para a síndrome do pânico. “Me afastei inicialmente por 15 dias, porque os gerentes gerais eram pressionados pelos regionais para que trabalhássemos, sem qualquer preocupação com nosso estado de saúde. Nos ameaçavam sempre a não pegar muitos dias de licença, a evitar usar nossos direitos de afastamento pelo INSS, e era nesses momentos que víamos que éramos apenas números dentro do Bradesco. Nossas vidas não importavam, se não déssemos o lucro que queriam”, desabafou.

 

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