Segunda, 05 Outubro 2020 19:55
DESUMANIDADE

Sindicato repudia demissões em massa no Bradesco

Bancário demitido no Rio passa mal, desmaia três vezes e médica suspeita de princípio de enfarto em função do estresse causado pela demissão

O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro repudia a decisão do Bradesco de demitir em massa bancários, em todo o país, em plena pandemia. O banco é mais uma instituição financeira que descumpre o acordo firmado com a categoria de não dispensar trabalhadores neste período de pandemia do novo coronavírus. A direção do Bradesco havia divulgado um comunicado dizendo que “os funcionários que fossem comunicados da sua demissão sem justa causa, no período entre 21 de setembro e 30 de novembro, teriam os planos de saúde e odontológico mantidos por seis meses”, além do que prevê a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria. O que poderia soar como uma concessão do banco para com o empregado era na verdade o prenúncio do que os sindicalistas já suspeitavam: a demissão em massa de funcionários.

Bancário passa mal

As demissões estão ocorrendo em todo o país. No Rio, de janeiro a setembro foram 128 trabalhadores demitidos. Após o anúncio feito pelo banco no dia 28 de setembro não param de chegar ao Sindicato funcionários dispensados, mas os números oficiais só poderão ser confirmados após a homologação feita pelo Sindicato. Pode chagar a uma dezena o número de trabalhadores que teriam sido dispensados em uma semana. Um gerente geral não suportou a notícia de sua dispensa e, ao procurar o Sindicato, passou mal, desmaiou três vezes e foi levado com urgência para uma unidade da UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Segundo a médica que atendeu o bancário, ele foi “vítima do estresse causado pela notícia de sua demissão, tendo todos os sintomas de um princípio de enfarto”.
“Após passar por um processo de videoconferência de 4 horas, sofrendo toda a pressão por metas, Fábio recebeu a notícia de que estava demitido. Os bancos estão fazendo isto em plena pandemia numa atitude que, além de extremamente desumana, descumpre o acordo firmado com os bancários. É de cortar o coração da gente ver o que os bancos estão fazendo com a categoria, É uma situação inaceitável”, disse o diretor da Secretaria de Saúde do Sindicato do Rio, Gilberto Leal.
Quem demite, não valoriza

Como os sindicatos já denunciavam, o comunicado do banco que falava em “Concessão de Benefício Adicional no Desligamento”, citando um suposto “compromisso” do Bradesco em “apoiar e adotar medidas de enfrentamento à pandemia” e a “adoção do princípio de valorização de pessoas”, na verdade, representa a quebra de um compromisso assumido publicamente com os trabalhadores de não demitir enquanto durar a pandemia. Não deu outra: o Bradesco anunciou demissões em massa. Em São Paulo mais de 80 bancários foram dispensados. “Quem valoriza o empregado, não demite. Com os lucros que o setor financeiro fatura, mesmo nesta crise, não há justificativa para demitir trabalhadores, que são justamente aqueles que, com seu tabalho duro e sofrendo assédio moral e pressão por metas, garantem os ganhos bilionários dos banqueiros”, disse Leuver Ludolff, que é membro da COE (Comissão de Organização dos Empregados). No primeiro semestre de 2020, o Bradesco faturou R$ 7,626 bilhões. Na verdade os números são muito maiores do que o setor tem divulgado oficialmente. É porque os ganhos estão sendo subnotificados. As instituições financeiras estão utilizando a estratégia de transferir a maior parte do faturamento para as Provisões de Devedores Duvidosos (PDDs), que em relação ao Bradesco cresceu 46,6% em relação ao mesmo período de 2019.

Organizar a mobilização

O coletivo do Bradesco do Sindicato se reuniu na segunda-feira, dia 5 de outubro para dar uma resposta dura ao banco e organizar uma mobilização contra as dispensas. “O Bradesco, segundo maior banco privado do país, descumpre acordo com a categoria e mantém um processo de demissão no país. Responsabilidade social deveria começar dentro da instituição mantendo os postos de trabalho e não desempregando trabalhadores em meio a uma pandemia e desemprego em alta no país. O banco sabe que realocação no mercado de trabalho nesse momento é praticamente impossível e deveria respeitar aqueles que produzem sua alta lucratividade”, afirma a presidenta do Sindicato Adriana Nalesso.

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