Sexta, 04 Agosto 2023 18:34

Visando aumentar o lucro, Bradesco reduz o crédito, para evitar inadimplência causada pelos juros altos que pratica

Olyntho Contente

Foto: Nando Neves

Imprensa SeebRio

O segundo maior banco privado do Brasil, o Bradesco, teve um lucro no segundo trimestre deste ano de R$ 4,518 bilhões, um aumento de 5,6% em relação ao primeiro trimestre e uma queda de 35,8%, se comparado ao mesmo período de 2022. O resultado mostra ser um erro apostar no lucro fácil dos empréstimos a juros os mais altos do mundo, provocando a quebra de empresas e famílias, e na insistência em apoiar a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%, ganhando com o aumento da dívida pública.

Outro erro, do qual o Bradesco e outros bancos ainda estão pagando caro, foi a concessão de empréstimos às Lojas Americanas, sem o devido cuidado, gerando um calote que ainda está impactando no lucro. E a solução encontrada pelo Bradesco para sair de toda esta situação foi a pior possível para a economia e a população: restringir ainda mais o crédito.

Ainda sobre o lucro do Bradesco, um fato inusitado veio da cobertura jornalística. O jornal Valor Econômico, por exemplo, avaliou que o crescimento da inadimplência não se deveu aos juros imorais impostos pelo banco, mas, unicamente, à alta dos preços. “A instituição (o Bradesco) ainda tenta deixar para trás um ciclo negativo, em que a inflação corroeu a capacidade de pagamento de seus clientes de menor renda e a crise da Americanas o levou a fazer um forte provisionamento no balanço de 2022”, diz o texto do Valor.

“O Bradesco melhorou seu lucro no segundo trimestre após uma sequência de resultados ruins. Mesmo assim, teve de reduzir as projeções para o crescimento da carteira e da margem financeira em 2023, ano em que se viu pressionado pela inadimplência”, acrescenta.

Números da inadimplência

A mesma matéria do Valor traz dados do balanço sobre a alta da inadimplência, tendo encerrado junho em 5,9% na carteira de crédito, de 5,1% em março e 3,5% em junho de 2022. A de pessoa física subiu para 6,7%, ante 6,3% em março e 3,9% no fim do segundo trimestre de 2022.

Já no caso das grandes empresas, o indicador estava em 1,9%, de 0,2% e 0,1%, na mesma base de comparação. Sem considerar um ‘grande cliente’ (cujo nome não foi citado pelo Bradesco, mas se trata, certamente, das Americanas), o indicador seria de 0,7%. Em micro, pequenas e médias empresas, ficou em 7,0%, de 6,2% e 3,9%.

“Neste contexto, o Bradesco restringiu ainda mais o crédito, encerrando junho com R$ 868,687 bilhões na carteira. O saldo caiu 1,2% ao longo do segundo trimestre e subiu 1,6% na comparação com junho do ano passado. O saldo de operações das pessoas físicas estava em R$ 361,077 bilhões, queda de 1,2% em relação a março e alta de 5,7% na comparação com junho do ano passado. A carteira de pessoas jurídicas caiu 1,2% nas duas bases de comparação, para R$ 507,609 bilhões”, diz a matéria.

PDD

Se a expectativa do banco era que a carteira de crédito crescesse entre 6,5% e 9,5% neste ano, a nova projeção é de alta de 1% a 5%. O guidance para margem financeira total agora é de alta entre 2% e 6%, abaixo dos 7% a 11% previstos anteriormente.

Com o risco ainda elevado, as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) ficaram em R$ 10,316 bilhões, com alta de 8,4% ante o trimestre anterior e de 94,2% em relação ao segundo trimestre do ano passado

A inadimplência de curto prazo (atrasos de 15 a 90 dias) ficou em 4,4% em junho, de 4,6% em março e 3,6% em junho de 2022. Houve melhora em todos os segmentos, o que, de acordo com o Bradesco, reflete “a qualidade das novas safras que estão sendo produzidas por uma política de concessão de crédito mais restritiva, reduzindo a inadimplência”.

As receitas de prestação de serviços atingiram R$ 8,756 bilhões, com avanço de 0,1% no trimestre e queda de 2,5% em 12 meses. Já as despesas operacionais totalizaram R$ 13,074 bilhões, subindo 2,2% e de 13,4%, respectivamente. O negócio de seguros teve lucro de R$ 2,372 bilhões, alta de 34% na comparação com o trimestre anterior e de 31,3% em 12 meses.

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