Domingo, 08 Agosto 2021 21:41

Bolsonaro piora atendimento para justificar privatização do BB

A economista Nadia Vieira de Souza, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos A economista Nadia Vieira de Souza, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

Olyntho Contente

Foto: Nando Neves

Imprensa SeebRio

O diagnóstico dos palestrantes que participaram da mesa de debates sobre “Retrato do Banco do Brasil nos últimos anos” foi o mesmo: o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem desmontando o BB para piorar o atendimento e, assim, jogar os clientes e a população contra o banco para justificar a sua privatização. A primeira a tocar no assunto, ao analisar o balanço do primeiro semestre foi a economista Nadia Vieira de Souza, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

“Os dados são preocupantes. Houve uma gigantesca redução do número de funcionários: em 2012 eram 114 mil; em 2021 passaram para 85, 5 mil. Só em janeiro, com o Plano de Reestruturação (de Bolsonaro) 5,5 mil postos de trabalho foram fechados. Houve, ainda, uma redução nos pontos de atendimento de 38%: eram 19 mil agências e postos e hoje são 11,178 mil”, informou.

Esta redução dramática teve impacto na qualidade do atendimento, que despencou, e no aumento da sobrecarga de trabalho. “De outro lado, houve aumento no número de clientes, de 58 milhões em 2012, para 75 milhões em 2021, um salto na proporção de bancários por cliente que passou de 1 para 513, em 2012; para de um para 881, em 2021”, explicou.

Não havia motivos para a redução, já que, como um banco público, deveria ter investido o lucro na melhoria dos serviços prestados aos clientes e à população, mas parece que este não era o objetivo, pelo contrário. “O lucro foi de quase R$ 10 bilhões nos seis primeiros meses, um crescimento de 48%. O total de receita com tarifas e serviços cobriu toda a folha de salários e ainda sobrou dinheiro: 117%”, estimou.

A economista disse que a pandemia não causou nenhuma redução no lucro em 2020. O resultado foi menor que em 2019 devido a uma Provisão para Devedores Duvidosos desproporcional. “Com isto, o lucro caiu 52%. Agora, com a queda da PDD em 52%, voltou a subir”, disse.

O BB continua sendo o que mais financia o setor rural, com 66% do total das operações de crédito. Mostra também que investe mais onde os bancos privados não o fazem por não trazer retorno. O crédito do BB por região é: 55%, na Região Centro Oeste; 40%, na Norte; 32%, na Nordeste; 29%, na Sul; e 11 na Região Sudeste.

Para a economista, a tendência é de piora crescente na qualidade do atendimento. “O banco prevê uma redução de R$ 3 bilhões com a continuidade da reestruturação e mais de R$ 10 bilhões até 2025. Com os desligamentos já economizou R$ 783 milhões”, acrescentou.

As novas tecnologias têm sido usadas para demitir e fechar agências. E o BB quer ampliar esta tendência investindo pesadamente em tecnologia. “O concurso que o governo anunciou para a contratação de 2 mil novos funcionários não foi para o atendimento, mas para a área de Tecnologia da Informação”, afirmou.

A pandemia serviu para o BB economizar bastante. “Com despesas administrativas como aluguel, água, luz e internet, foram R$ 146 milhões. É uma visível política de exclusão de clientes”, observou.

Banco privado

Jean Moreira, ex-funcionário do banco, disse que as mudanças visam maximizar os lucros, ficando muito próximo do que fazem os privados. “Com isto deixa de lado suas funções sociais”, comentou.

Na sua opinião, num governo progressista, poderia investir no desenvolvimento econômico e no atendimento à população. “O BB tem que investir na agricultura familiar, o que não significa deixar de investir em grandes empresas que possam competir no mercado internacional”. Para o coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários, João Fukunaga, o esvaziamento do BB expõe claramente como o governo prepara a privatização.

Jean Rodrigues ressaltou que a criação do Banco do Brasil aconteceu a partir de modelos de séculos atrás. Empresas e pessoas cada vez mais ficam menos equipados para compreender esse crescimento exponencial em que vivemos. Por outro lado, Jean destacou que o sistema bancário brasileiro é altamente concentrado, detém 77% dos ativos totais e 79% dos depósitos totais. “Isso faz com que o Banco Central regule essa concorrência baixa adotando uma série de medidas para promover maior competição no sistema bancário. São fintechs, é o PIX, o open banking, pagamentos e transferência de fundos em real-time”, exemplificou.

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