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Imprensa SeebRio
A política de diversidade dentro do Banco do Brasil foi duramente atingida pelo golpe de 2016 que derrubou a presidenta Dilma Roussef (PT), colocou em seu lugar Michel Temer (MDB) e depois, ao impedir Lula de participar da eleição em 2018, permitiu a ascensão de Jair Bolsonaro. A avaliação foi feita pelo ex-deputado Jean Willis, jornalista e professor universitário, que participou, neste domingo, de debate sobre o tema “Diversidade para construir um banco realmente do Brasil”, uma das mesas do 32º Encontro Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, realizado de forma virtual.
Lembrou que os governos Lula e Dilma implantaram um projeto que visava a inclusão dos mais pobres, com investimentos sociais, fortalecimento do mercado interno com programas de estímulo à diversidade, inclusive nas estatais como o Banco do Brasil, além de uma política externa independente, entre elas, com a criação dos Brics (grupo de países em desenvolvimento, incluindo, além do Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul). Acrescentou que os grupos políticos que queriam manter seus privilégios e não apoiavam este projeto, se aproveitaram da crise mundial de 2008, causado pela ‘bolha imobiliária’ iniciada nos Estados Unidos, e que chegou ao Brasil em 2013, durante o governo Dilma, para construir uma narrativa que culpava os governos do PT pela crise.
Campanha antipetista
“Começava uma política antipetista, partido inicialmente apontado como culpado pela crise, mas também, depois, pela corrupção, neste caso, tendo a Lava Jato dado uma importante contribuição, na construção desta narrativa que levou ao golpe de 2016”, frisou. Lembrou que estes governos tinham uma extensa pauta que não agradava a grupos conservadores como de equidade de gênero, política antirracista, legalização do aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, de proteção a indígenas e quilombolas, entre outras.
“Toda esta política foi atacada numa ampla campanha que não era feita só pelo Jornal Nacional, da TV Globo, mas por toda a mídia, dando ampla cobertura às investigações fraudulentas da Lava Jato, e que se estendia mais ainda pelas mídias sociais, criando um inimigo que eram os governos petistas, coordenada pelo chamado gabinete do ódio”, lembrou. Constatou que o Banco do Brasil foi igualmente atingido por seguir a política de um governo democrático. “Estava se construindo um Brasil plural. Com o golpe, o BB mudou a sua forma de tratar, não só o funcionalismo do banco, como também os clientes e usuários, passando a ser desmontado”, ressaltou.
Acrescentou que a diversidade desapareceu com Bolsonaro. “Seu ministério é composto quase somente por homens, há apenas uma ministra, e, na Fundação Palmares, colocou um negro que age como um capitão do mato. Passamos de um momento de diversidade e melhora social, passando a sofrer ataques a direitos, aumento da exclusão social, do desemprego, do preconceito, alto desemprego, e, na questão da pandemia, uma política que levou a milhares de mortes”, lembrou.
Avaliou que o BB foi um banco essencial na era Lula, mas que vem sendo esvaziado para ser privatizado. “Espero que os funcionários tenham a bravura de continuar resistindo”, defendeu.
Retrocesso no BB
Izabela Lemos, funcionária do BB, foi nomeada diretora de Relações com os Funcionários e Responsabilidade Socioambiental do banco em 2004. “O governo Lula criou o Programa de Equidade de Gênero, a qual o BB aderiu. A partir daí foram nomeadas mais quatro diretoras. Conseguimos garantir o direito de dependentes de uniões homoafetivas, a revisão do programa da ascensão, para garantir a inclusão proporcional de mulheres nas vagas, além da contratação da primeira funcionária transgênero”, enumerou.
Disse, no entanto que, hoje, o BB começa com o discurso de promoção por meritocracia, colocando a possibilidade de ascensão, como responsabilidade da própria mulher. Lembrou que o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico) tem estudo comprovando que o assédio moral é usado para impedir a ascensão das mulheres nas empresas. Cobrou coerência do banco que tem normas internas de diversidade, com resultados ‘etéreos’ a longo prazo, mas que, por existirem, têm que ser cobradas.
Em sua gestão, na ascensão era aplicada a proporcionalidade, era calcada na competência. “Com a mudança de governo a proporcionalidade não existe mais.
Racismo
O professor doutor José Vicente, fundador e reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, lembrou que o racismo é estrutural e que o que se vê é as leis que criminalizam esta prática e os programas de inclusão não serem respeitados. “Nenhuma medida legal garantiu a maior presenças e ascensão de negros não é garantida nem no setor privado, nem no setor público”, disse. Acrescentou que no BB, nos governos Lula e Dilma, eram seguidos os critérios de inclusão da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Social, o que passou a não acontecer com a mudança de governo.
“Essa igualdade que a gente advoga é uma igualdade que ainda não permitiu que até hoje tivéssemos um negro na presidência das grandes empresas, uma mulher negra na presidência das empresas do nosso país”, constatou.