Sexta, 19 Julho 2024 16:54
CONECTADOS NA IGUALDADE

Sindicatos vêem sinalização positiva na questão da diversidade no BB, mas tema precisa avançar mais

Funcionários querem ainda que casos de assédio moral e sexual sejam combatidos e que o banco garanta a plena Igualdade de Oportunidades
Rita Mota (segunda à direita) na negociação sobre diversidade e igualdade de oportunidades no Banco do Brasil Rita Mota (segunda à direita) na negociação sobre diversidade e igualdade de oportunidades no Banco do Brasil Foto: Contraf-CUT

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Com informações da Contraf-CUT 

Foi realizada na manhã desta sexta-feira (19), em São Paulo, a mesa de negociação específica da Campanha Nacional 2024 para a renovação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) do Banco do Brasil. Na pauta principal, as questões sobre a diversidade e igualdade de oportunidades. Na avaliação dos representantes dos trabalhadores,a direção do banco sinalizou com alguns avanços no tema. 

Horas negativas 

Antes de iniciar o debate sobre o tema central da mesa de negociação, o banco, atendendo ao pedido do movimento sindical, apresentou o quadro atualizado da quantidade de horas negativas que os bancários e bancárias precisam compensar até maio de 2025. Dos 5.497 trabalhadores com banco de horas negativo, 755 têm mais de 60 anos.

Números da diversidade 

O Banco do Brasil apresentou números da empresa referente à diversidade e igualdade de oportunidades dentro da instituição. Atualmente, o banco conta com 25.724 funcionários negros, o que representa 29,51% do quadro total. Desses, 2.130 ocupam posições de liderança, correspondendo a 28,24% dos líderes.

O banco destacou ainda, detalhe do programa "Raça é Prioridade", que conta com 150 pessoas em processo de aceleração para liderança. Ao final do processo de desenvolvimento, estando aptos e havendo vagas, esses profissionais poderão assumir posições de liderança sem passar por novos processos seletivos, abrangendo todos os níveis de gestão, além de uma cota racial.

Representatividade feminina 

O Banco do Brasil possui atualmente 35.681 mulheres em seu quadro funcional, ou seja, 40,94% do total de funcionários. No entanto, a situação ainda é de discriminação contra as mulheres, pois elas representam apenas 26,79% dos cargos de líder do banco. 

O banco apresentou uma proposta para aumentar esta presença feminina nas posições de comando da empresa, com

programas com ações afirmativas direcionadas a mulheres. Foi citado um concurso recente para superintendente regional, no qual cerca de 70% dos aprovados foram mulheres, como parte do esforço da empresa para aumentar a participação feminina em posições de liderança.

Trans, PcDs e neurodivergentes 

A Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB) cobrou do banco programas que incluam cotas nos concursos públicos para pessoas trans e mais ações afirmativas para pessoas com deficiência (PCDs) e neurodivergentes. 

Assédio Moral

Em relação ao canal de denúncias de assédio moral, um problema crescente na empresa, os representantes do BB atenderam à reivindicação do movimento sindical e divulgaram o crescimento dos números do canal de denúncias: em 2022, 26,9% dos protocolos envolvendo conduta de cunho sexual resultaram em demissões por assédio sexual. Em 2023, esse percentual aumentou para 45,9%. Nos primeiros seis meses de 2024, 65% dos processos de cunho sexual já resultaram em demissões.

"Isso mostra claramente a importância da efetividade do canal. A pessoa tem que ter confiança para denunciar e saber que a denúncia será corretamente investigada e os culpados punidos", afirmou Fernanda Lopes, coordenadora da CEBB, em entrevista publicada no site da Contraf-CUT. 

Combate à discriminação 

O banco informou que, desde junho do ano passado, foram catalogadas 17 denúncias que foram investigadas, das quais 65% envolveram raça, 17% gênero, 12% homofobia e 6% crença religiosa. 

No segundo semestre do ano passado, foi registrada a primeira demissão por racismo na história do Banco do Brasil.

Nome Social

O movimento sindical reivindicou também que todas as pessoas que utilizam um nome distinto do registro civil tenham o direito de usar o nome social, dentro da política de respeito à diversidade, para acabar com a discriminação à comunidade LGBTQIA+. 

O banco informou que já está preparando essa mudança e se comprometeu a trazer atualizações no próximo encontro.

Licença Parental

Outra reivindicação do funcionalismo é a licença parental remunerada de 12 meses, a partir do nascimento, adoção ou do fato gerador do direito à licença parental, para cada pessoa de referência da criança ou do adolescente, limitada ao máximo de duas pessoas, sem prejuízo do emprego ou salário, para o desempenho da atividade parental. Em casos de nascimento prematuro, a licença terá início a partir do parto e se estenderá por período igual ao da internação hospitalar do prematuro. Se a pessoa gestante desejar iniciar a licença antes do parto, a outra pessoa de referência poderá optar por iniciar a sua licença a partir do parto. O banco prometeu analisar a pauta e admitiu reconhecer o benefício desta reivindicação.

Preconceito etário

Os representantes dos trabalhadores reivindicaram ainda políticas para combater o preconceito etário. Estereótipos, como dificuldades no aprendizado e com a tecnologia, além de problemas de integração ao ambiente estão entre as formas de discriminação contra funcionários com idade mais avançada. 

Pessoas com deficiência

A Comissão reivindicou a inclusão de políticas afirmativas para Pessoas com Deficiência (PcDs) e neurodivergentes, além da ampliação do direito à redução da jornada de trabalho para pais e responsáveis por dependentes com deficiência física e/ou mental. A CEBB (Comissão de Empresa dos Funcionários) defende três horas menos para funcionários que têm jornada de oito horas e redução de duas horas para os que possuem jornada de seis horas. 

Os PCDs representam atualmente 2,86% de todo o quadro funcional do BB no país. Nos cargos de liderança, esse percentual é ainda menor: apenas 1,29%. Em 2024, o banco contratou 357 funcionários com deficiência: 107 com deficiência física, 65 visuais, 16 auditivos, 66 com deficiência mental (95% destes são TEA) e 3 com deficiências múltiplas. Desses, 34 já foram realocados: 19 com deficiência física, 2 visuais, 11 com deficiência mental e 2 com deficiências múltiplas.

O banco lembrou também de dois projetos para apoio e orientação aos gestores, acompanhamento dos funcionários e diálogo com a equipe que os recebe, além de prestar atendimento psicológico. 

O movimento sindical quer a possibilidade de acúmulo de auxílio a filho com deficiência com o auxílio creche.

Avaliação dos sindicatos 

Os sindicatos fizeram uma avaliação positiva da reunião, mas consideram que há ainda muito o que avançar. 

"Os temas de hoje são muito relevantes e estão sendo discutidos há muitos anos, mas ainda não conseguimos avançar no patamar que garanta a igualdade considerando a diversidade. Questões de raça, gênero, LGBTQIAPN + e das PcDs e neurodivergentes são necessários porque ainda há discriminação. Todos os funcionários passaram em concurso público e precisam ter o direito às mesmas oportunidades de ascensão profissional" avaliou a diretora do Sindicato do Rio e representante da CEEBB, Rita Mota. 

Em relação ao assédio moral e sexual, Rita disse que estas práticas precisam ser combatidas de forma séria e que haja punição aos assediadores. 

"Muitas pessoas ficam com receio de buscar os canais de denúncias com medo de impunidade e de futuras retaliações. Por isso, é muito importante garantir que todas as pessoas assediadas tenham um canal que vá, de fato, verificar e corrigir o que for necessário", completou Rita. 

A próxima negociação será no dia 26 de julho, em São Paulo, sobre saúde e condições de trabalho.

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