Quarta, 05 Junho 2024 19:31

34º CNFBB: combate a metas abusivas deve ser prioridade da Campanha Nacional dos Bancários

Debate sobre saúde encerrou o primeiro dia do 34º Congresso Nacional dos Funcionários do BB. Foto e arte: Contraf-CUT. Debate sobre saúde encerrou o primeiro dia do 34º Congresso Nacional dos Funcionários do BB. Foto e arte: Contraf-CUT.

Olyntho Contente*

Imprensa SeebRio

O adoecimento mental é uma verdadeira pandemia na categoria bancária. Este é o resumo dos resultados alarmantes revelados pela pesquisa “Avaliação dos Modelos de Gestão e das Patologias do Trabalho Bancário”, encomendada pelo movimento sindical bancário ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).

Os números do levantamento foram apresentados pelo secretário de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Mauro Sales, na mesa de debate “Saúde e condições de trabalho”, do 34º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, evento que ocorre nesta quarta-feira (5) e termina amanhã (6). Antes de apresentar os dados da pesquisa, respondida por cerca de 5 mil bancários e bancárias, Mauro Sales falou do mecanismo do adoecimento hoje em voga nas empresas.

“É um ciclo que envolve a busca por lucro, portanto induz à competição acirrada, com aumento do ritmo de trabalho e mais pressão por resultados e metas”. Mauro ressaltou ainda que existem estudos que mostram que mulheres e negros são os mais pressionados por esse ciclo de adoecimento.  

Ganância – A maior parte (86,7%) dos consultados declarou estar trabalhando no momento da pesquisa. E os principais dados revelados pelo trabalho são: 40,4% declararam já ter ido trabalhar mesmo com atestado médico recomendando afastamento do trabalho para tratamento; o principal motivo declarado para buscar tratamento médico foi o trabalho (54,5%), indicando uma medicalização do sofrimento no trabalho, o que pode causar graves danos à saúde; quase metade dos respondentes (40,2%) declarou estar em acompanhamento psiquiátrico.

A consulta mostra ainda que entre  os que estão em acompanhamento psiquiátrico, 91,5% estão utilizando medicações prescritas pelo psiquiatra; 76,5% declarou ter tido pelo menos um problema de saúde que considera relacionado ao trabalho no último ano; mais da metade declarou estar em acompanhamento médico com outras especialidades (59,7%).

Gestão desumana dos bancos - Mauro destacou que os resultados apontam para a presença intensa de todos os fatores e riscos psicossociais. “Trata-se de um resultado crítico que indica a alta ocorrência de situações associadas a um modelo de gestão pautado no controle e na vigilância, causando patologias da sobrecarga e da violência e múltiplos sintomas de adoecimento no nível físico, psicológico e social”, disse.

Assédio – Outro ponto ressaltando pela pesquisa foi a chamada “patologia da violência”, caracterizada pela condição de desmotivação, falta de liberdade de expressão e de opções no trabalho, com indiferença entre colegas e a desconfiança entre chefia e subordinados: 54,8% dos entrevistados responderam que existe a presença intensa da patologia da violência em seus trabalhos; outros 13,4% afirmaram que a presença é modesta e 31,8% que há presença.

Sobrecarga de trabalho – Sobre a “patologia da sobrecarga”, caracterizada pelo cansaço, desgaste, sobrecarga e frustração: 80,5% afirmaram haver presença intensa; 4,1% presença modesta e 15,4% presença dessa patologia. 

Sobre os sintomas do adoecimento exposto na pesquisa, como sentimentos de tensão, incapacidade de relaxar, fadiga, agitação e irritabilidade: 55,5% afirmaram haver presença intensa; 12,9% presença modesta e 31,6% presença. 

CCT – “Não é normal esse nível de violência e pressão nos bancos. Precisamos elevar essa consciência entre nossos colegas, sobre esse modelo de gestão que é inaceitável. Em segundo lugar, precisamos dar visibilidade dessa situação não só entre os trabalhadores, mas entre a sociedade”, pontuou Mauro. “Esse tema tem que ser, de fato, prioridade em nossa campanha nacional”, reforçou.

Para isso, o secretário apontou para a necessidade de revisão e atualização da Cláusula 61, dentro das prioridades da campanha.

Caixa de assistência dos funcionários do BB – Graça Machado, Vice-presidente de Relações Institucionais da ANABB (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil) e recentemente eleita Conselheira Deliberativa da Cassi, a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, destacou diversos desafios e propostas para melhorar o funcionamento e a eficiência do plano de saúde dos funcionários do banco.

Ela enfatizou a importância de aproximar o plano de saúde dos associados, destacando que a quantidade de credenciados não necessariamente se traduz em um bom atendimento. “A quantidade de credenciados não significa dizer que todos têm atendimento”, afirmou.

Graça também ressaltou a característica única da Cassi como um plano de saúde de gestão compartilhada, onde a diretoria é composta tanto por eleitos quanto por indicados pelo banco. “A Cassi é um plano de saúde de gestão compartilhada. Não adianta uma diretoria dizer ‘eu vou fazer’. É um plano de saúde que os eleitos têm duas pessoas na diretoria e o banco indica duas pessoas. É o único plano de saúde que eu conheço que tem eleitos dentro da sua diretoria, isso é uma conquista dos trabalhadores, é uma conquista nossa”, destacou.

Além disso, mencionou os desafios relacionados ao custeio, a situação dos funcionários que ingressaram após 2018 e os desafios dos egressos do banco. “Estamos num momento de construção e de avançar nessa construção, porque os desafios são muito grandes”, concluiu, enfatizando a importância da construção coletiva para enfrentar esses desafios e alcançar conquistas para todos os associados da Cassi.

Saúde deve ser prioridade da Campanha – O presidente da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi), Cláudio Fortes Said, também participou da mesa de debates, reforçando, a partir dos dados apresentados por Mauro Salles, sobre a gestão que adoece os bancários. “Nesse ponto, a Cassi tem um papel fundamental. E concordamos com Mauro, de que precisamos, na Campanha Nacional deste ano, priorizar o tema da saúde”, acrescentou.

Said ressaltou que, uma forma de a Cassi contribuir contra o cenário de intenso adoecimento da categoria, é por meio do modelo de gestão atual da entidade, que tem aumentando os investimentos na atenção integral à saúde, baseado na atenção primária.

Prevenção – “Nosso projeto é subir de 65 para 99 as CliniCassi, com o propósito de evitar o adoecimento. Porque não é pagando pela cura, tão somente, que vamos dar mais qualidade de vida aos nossos associados e dependentes, mas prevenindo. E, com isso, também reduzimos os gastos da Cassi, tornando-a mais sustentável”.

Said destacou ainda que o sistema de solidariedade e de autogestão da Cassi é fundamental para a entidade. “Estamos fazendo uma transição para uma saúde mas uma saúde vista no contexto completo de estado de bem estar social, não apenas com o olhar concentrado na enfermidade”, destacou, enfatizando que o espaço de trabalho e condições sociais são determinantes para a saúde. “A Cassi tem como trufo saber quem é o associado, onde ele está, para desenvolvermos melhor esse modo de gestão e atuação no atendimento à saúde”, afirmou.

*Com informações da Secretaria de Comunicação da Contraf-CUT.

 

 

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