Terça, 29 Agosto 2023 17:21

No BB e na Caixa ganha força a luta pelos direitos dos neurodivergentes

Priscila Reis de Sá, presidente do Movimento Autogerido Neurodivergentes, discursa na 25ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro Priscila Reis de Sá, presidente do Movimento Autogerido Neurodivergentes, discursa na 25ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro

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Imprensa SeebRio

Promover adaptações no ambiente de trabalho que garantam as condições necessárias para que funcionários com neurodivergências possam exercer plenamente o seu potencial profissional. Este é um dos principais objetivos do Movimento Autogerido Neurodivergentes, formado por funcionários do Banco do Brasil. A luta também começa a ganhar corpo entre os empregados da Caixa Econômica Federal.

O termo é pouco conhecido pela maioria da população. Inclui pessoas com autismo, algum tipo de deficiência física, transtorno de déficit de atenção, bipolaridade e dislexia, entre outros. A presidente do Movimento, Priscila Reis de Sá, explicou que estas pessoas podem desempenhar com mais eficiência e sem tanto desgaste suas atividades, se forem tomadas pelo banco medidas inclusivas e simples como a adaptação do ambiente de trabalho e de equipamentos.

“Entregamos à diretoria do Banco do Brasil um conjunto de reivindicações para serem colocadas em prática. Nosso objetivo é que seja formado um Grupo de Trabalho para discutir a melhor forma de fazer isto e, logicamente, com a participação de neurodivergentes para que programas e medidas sejam plenamente adequados”, frisou. Citou como exemplo, adaptações simples de acordo com o caso específico.

“Uma pessoa com dislexia, por exemplo, tem dificuldade de leitura. No caso, seriam necessárias mudanças na formatação das letras do monitor, tamanho, espaçamento, brilho, providências que não geram custos e garantem a melhora da produtividade, além de menos desgaste para o funcionário. Já pessoas com transtorno do déficit de atenção (TDAH), talvez precisem ficar num local mais reservado, longe de confusão e barulho”, exemplificou.

Conferência Nacional

O movimento começou a partir de março, com a criação de um grupo de Whatsapp com funcionários da ativa, aposentados e pensionistas do BB, que eram neurodivergentes ou com familiares com estes sintomas. O número de participantes foi crescendo, mostrando ser significativo o universo de pessoas com interesse direto sobre o tema e necessitando de uma solução urgente.

Os interessados em participar do grupo, podem acessá-lo por este QR code: https://chat.whatsapp.com/Lu5LKtsW01PJ7ahAtbfah5.

“Em junho, apresentamos nossas reivindicações ao plenário da 25ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro. O objetivo foi incluir o tema entre as reivindicações a serem reivindicadas junto aos bancos”, afirmou Priscila.

Na Conferência, Priscila leu documento aos participantes. “Nós, neurodivergentes, somos um a cada cinco pessoas no mundo. Isso quer dizer que somos muitos e estamos em todos os lugares. Hoje estou aqui dando voz às necessidades e dores de funcionários que vivem uma pressão constante por não se ajustarem a modelos de processos feitos para pessoas típicas, vulgo “normais” para pessoas típicas”, afirmou.

Acrescentou que a ausência de medidas relativos ao segmento, torna este público fragilizado e potencializa o adoecimento mental e afastamentos. “Além disso, os efeitos de um ambiente não adaptado impactam na entrega do trabalho e na qualidade de vida. Destaco uma pesquisa do ano passado que afirma que 4,7% do PIB Brasileiro é gasto com saúde mental. Isso interfere até na nossa PLR”, disse.

Apoio e treinamento

A luta dos neurodivergentes já conta com apoio das várias associações dos funcionários do BB, tendo o Movimento estabelecido contato com a Caixa de Assistência (Cassi), no sentido de promover avaliação neuropsicológica dos funcionários interessados e com suspeita de pertencerem ao grupo. “Nosso objetivo é ter um BB inclusivo, adaptado a nós e temos sentido que há por parte da atual gestão interesse em dar prioridade à questão”, avaliou.

Paulo Simões, delegado sindical do BB, diretor da CUT Rio e integrante do Conselho de Usuários da Cassi do Rio de Janeiro, disse perceber a dificuldade de inclusão das pessoas neurodivergentes. Avaliou ser um dos principais motivos o desconhecimento, tanto por parte do banco, quanto da maioria dos funcionários. O dirigente – que tem um filho autista – aponta a necessidade de criar-se um programa de treinamento para lidar com as pessoas deste segmento, recebê-las e tomar as todas as medidas necessárias para um melhor desempenho profissional.

“Este treinamento das equipes é necessário para que se saiba que adaptação precisa ser feita em cada caso, para que as pessoas possam exercer plenamente a sua função”, explicou. Defendeu, ainda, programas de capacitação e ascensão dos neurodivergentes, aproveitando ao máximo suas capacidades. “Caso estas duas medidas sejam tomadas o desempenho pode ser superior aos colegas neurotípicos”, argumentou. 

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