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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
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O lucro do Banco do Brasil no ano passado foi de R$ 31,8 bilhões, um aumento de 51,3% se comparado com os números de 2021, mesmo com o provisionamento de R$ 788 milhões adicionais por conta do rombo das Americanas. O resultado foi alcançado, em parte, graças a uma gestão que vinha desmontando a estrutura do BB, reduzindo o número de funcionários, fechando agências, o que além de aumentar a sobrecarga de trabalho e o adoecimento fez cair a qualidade do atendimento, mostrando um claro descaso para com clientes e o funcionalismo do banco.
Outro fator que reforça este descaso é o corte de custos com pessoal e fechamento de agências que não se refletiu em queda das tarifas cobradas aos clientes, seguindo uma lógica de banco privado, contribuindo para o lucro expressivo. Pelo contrário, houve aumento de 10,2% em um ano, com a prestação de serviços e tarifas bancárias, alcançando R$ 32,33 bilhões.
Também explica este lucro, a alta da Selic, com o resultado da tesouraria tendo alta de 116% em um ano, alcançando R$ 34,4 bilhões. Contribuiu ainda para o lucro recorde o aumento de 39,2% no crédito, alcançado em razão da imposição de juros altíssimos.
Pressão e adoecimento
Rita Mota, dirigente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e da Comissão de Empresa dos Funcionários (CEBB) frisou que o funcionalismo tem de ser parabenizado pelo lucro recorde, mas ressaltou ser importante levar em conta que está assoberbado, com muito trabalho e cobrança por metas e uma estrutura deficiente de trabalho. “As pessoas estão adoecendo, física e psiquicamente. O lucro é benéfico, mas a saúde dos funcionários é prioritária”, disse.
Para a dirigente é preciso que a nova gestão assegure melhores condições de trabalho, e metas que sejam atingíveis, respeitando a saúde de quem trabalha no BB. A representante da Contraf-CUT na CEBB, Fernanda Lopes também fez a mesma avaliação.
“Precisamos salientar que os resultados astronômicos são, em parte, fruto de uma gestão por metas cada vez mais difíceis de serem alcançadas. O que registramos nos últimos anos foi um aumento de casos do adoecimento, seja por conta de assédio moral para alcançar metas em níveis abusivos, seja pela redução de postos de trabalho e agências, considerando os programas de reestruturação impostos pelas direções que assumiram o BB, entre 2016 e 2022″, afirmou.
Redução de pessoal
Fernanda lembrou que no mais recente relatório, o BB informa que aumentou em 1.356 os postos de trabalho, com a convocação de aprovados no concurso público realizado no fim de 2021. No período, também foram fechadas 8 agências tradicionais e abertas 12 agências digitais e especializadas. Fernanda observou que esses números ainda não são suficientes para recompor os mais de 10 mil postos de trabalho cortados e mais de 1.500 unidades fechadas, desde 2016.
“Esses resultados são fruto de gestões passadas do banco, que priorizaram tornar o BB semelhante a qualquer outro banco privado, para atender expectativas de acionistas, às custas da sobrecarga dos funcionários e da redução do papel do BB como banco público, que deveria estar alinhado ao desenvolvimento do país. Nossa expectativa é que, em 2023, o BB volte a cumprir o papel que não cumpriu nos últimos anos e isso inclui valorizar os funcionários e ajudar a reduzir as dívidas das famílias e do setor produtivo”, pontuou a representante dos funcionários da CEBB.
Juros nas alturas
Em um ano, a carteira de crédito ampliada do BB cresceu 14,8%, totalizando R$ 1,004 trilhão. O segmento Pessoa Física, cresceu 9%, atingindo R$ 289,6 bilhões, principalmente, por influência do crédito consignado (+7,8%) e nas operações com cartão de crédito (+14,5%).
“O dado que aponta para o aumento do crédito consignado, com taxas de juros altas cobradas pelo BB, vem de uma política de ganhar retorno sobre famílias endividadas. E vamos lembrar que a população aumentou seu endividamento por causa de fatores como a pandemia e o desemprego”, avaliou Fernanda Lopes. “Vale destacar também que o BB está entre os bancos que aplicam as maiores taxas de juros rotativos oferecidas ao cliente, quando ele não consegue realizar o pagamento total da fatura”, prosseguiu Fernanda.
Segundo dados do Banco Central, de 31 de janeiro, a taxa de juros rotativos, cobrada pelo BB de pessoas físicas, chega a 534,60% ao ano. A título de comparação, o Bradesco cobra 332,64% ao ano e o Itaú-Unibanco 351,01%. “Esses são dados que reforçam nossa crítica de que o BB, ao longo dos últimos anos, se distanciou de sua função de banco público que, como tal, deveria ter como prioridade auxiliar as famílias brasileiras e pequenas empresas a saírem do endividamento, e não o contrário”, destacou Lopes.
Em relação a dezembro de 2021, a carteira Pessoa Jurídica cresceu 12,8%, registrando total de R$ 358,5 bilhões, com destaque para grandes empresas (+15,7%) e micro, pequenas e médias empresas/MPME (+21,2%). Já a carteira de agronegócio do banco cresceu 24,9% em um ano, totalizando R$ 309,7% bilhões, com destaque para o custeio agropecuário (+46,5%), linha de investimento (+54,6%) e agroindustrial (+109,1%).
“As micro e pequenas empresas, assim como as famílias, estão hoje enforcadas pelo endividamento. São públicos que deveriam ter os juros negociados. O banco também precisa oferecer, a juros baixos, crédito à agricultura familiar. Isso, inclusive, é uma cobrança feita pelo presidente da República, em discursos sobre o papel dos bancos públicos”, lembrou a dirigente da Contar-CUT.
As despesas com provisão para créditos de liquidação duvidosa (PCLD) cresceram 31,7%, totalizando R$ 23,547 bilhões, enquanto o índice de inadimplência para atrasos superiores a 90 dias foi de 2,51%, aumento de 0,76 p.p em um ano, inferior à inadimplência do Sistema Financeiro Nacional (3%).