Quarta, 24 Novembro 2021 16:13

Fórum debate ampliação do combate ao racismo no mercado de trabalho e em toda a sociedade

Imprensa SeebRio*

Como combater o racismo presente em todos os setores da sociedade e que tem impacto no mercado de trabalho? Este foi o objetivo principal dos debates virtuais do 6º Fórum Nacional Pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro, nesta terça-feira (23).

O evento foi promovido pela Secretaria de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), e contou com a participação de mais de 100 militantes sindicais de todo o país e foi realizado em videoconferência. Ao final dos painéis, os participantes do fórum aprovaram uma moção de repúdio à política de racismo do governo Bolsonaro, materializada na figura do atual presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo.

O racismo nos bancos

Segundo a economista Nadia Vieira de Souza, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de Brasília, os números evidenciam o racismo no Brasil e também nos bancos. Citou dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério da Economia mostrando que o rendimento médio mensal na categoria bancária dos negros em relação aos brancos é sempre menor. Enquanto homens não negros têm remuneração média de R$ 10.169, os bancários negros recebem R$ 7.938.

Já a mulheres não negras recebem no setor bancário uma média de R$ 7.849, enquanto que mulheres negras têm rendimento médio de R$ 6.363. A realidade comprova os impactos de uma sociedade dominada pelo racismo e do machismo. Bancárias e bancários negros também ocupam menos cargos de direção. São apenas 5% dos cargos de diretoria e superintendência, 15% das gerências e 17% de cargos de supervisão, chefia e coordenação.

Combater a discriminação

Almir Aguiar, ex-presidente do Sindicato e secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT frisou a importância do movimento sindical e da categoria fazerem este importante debate para conter o racismo. “Foi muito boa a participação de bancárias e bancários de vários estados do Brasil no Fórum deste ano. Tivemos cerca de 180 participantes, uma boa discussão que só nos anima a continuar a luta para ampliar a participação da população negra no ramo financeiro, com bons salários e trabalhos com respeito e dignidade”, avaliou Almir.

A presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, acompanhou os debates. “É muito atual e necessário fazer esse debate. O racismo tem um reflexo no mercado de trabalho e na vida como um todo. Nos bancos as mulheres negras recebem 47% do que recebem os homens não negros. Precisamos acabar com isso. O fórum faz esse debate, para avançar a participação da população negra no mercado de trabalho. Isso se reflete na nossa categoria, com uma presença muito pequena. Negras e negros têm dificuldade de ascensão profissional no banco”, afirmou Juvandia Moreira na abertura do fórum.

Genocídio

A advogada Tamires Sampaio, mestra em Direito Político e Econômico e diretora do Instituto Lula, falou sobre genocídio da população negra e suas relações históricas. “As instituições, em especial o sistema de justiça criminal e segurança, promovem o processo de encarceramento e naturalização da morte. É só ver a forma como a população negra é retratada na TV, nos filmes, nos programas jornalísticos. A relação do racismo com a ideologia faz com que a própria população negra absorva essas imagens. É para o controle da população”, afirmou Tamires.

A professora Anatalina Lourenço, dirigente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), contou que descobriu que era negra aos 13 anos. Disse que no seu trabalho costuma ouvir relatos de jovens alunos negros com dificuldades em entrar nas agências bancárias.

“Sempre são muito observados, como se estivessem com alguma arma debaixo da roupa. Estamos dentro dessa sociedade e cotidianamente ouvimos uma série de atitudes que constroem estereótipos, colocando a juventude negra como delinquente. Este estereótipo permeia o inconsciente coletivo. O racismo mata a psique da população negra. Constrói um mecanismo que nos coloca sempre no pior papel possível”, afirma Anatalina.

O papel da escola

Ana Cruz, ativista política e coordenadora do movimento cultural Mulheres Negras Construindo Visibilidade, falou sobre a importância do ativismo político das mulheres negras. Ana começou falando sobre a aplicação da lei federal que estabelece no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. “O problema é que quem tem que sancionar são os municípios e os estados e eles não o fazem. O que vai fazer a lei funcionar é a nossa articulação política. Tem que acontecer mais engajamento. Essa lei é revolucionaria para desconstruir o racismo a partir da educação”, destacou Ana Cruz.

O advogado Gabriel Sampaio falou sobre conquistas históricas, ações afirmativas na luta contra o racismo na vida e no trabalho. “O Brasil forma em sua base de legislação o enraizamento do projeto racista. Nossa primeira constituição optou por legitimar o modelo escravocrata. No final do século 19, nossas elites, sabendo da transição ao trabalho livre, aprovam algumas normas para preparar o terreno econômico para o trabalho livre e determinam o papel de subalternização da população negra”, afirmou Gabriel Sampaio.

Legado negro

Ramatis Jacino, professor da Universidade Federal do ABC, começou sua fala destacando que a história da população negra não começa com a escravidão. “É muito mais antiga, remonta há 5 mil anos, no mínimo. Nossas civilizações deixaram um legado, como o Egito, a Abissínia, o reino de Aksun, o reino do Mali, o império Ashanti. A contribuição do continente africano foi além das artes e do que foi folclorizado. Se dá nas mais diversas áreas da ciência”, destacou. Ramatis lembrou que foi o escravizado africano que teve papel importante na agricultura do açúcar e do café na economia brasileira, assim como o conhecimento de metalurgia para a exploração das Minas Gerais.

A major Denice Santiago, da Polícia Militar do Estado da Bahia, falou sobre empoderamento das mulheres negras e violência na pandemia. “O Fórum de Segurança Pública diz que ocorre uma violência doméstica a cada oito minutos. É um problema de saúde pública, de segurança, de assistência social. É um problema da nossa cultura e da nossa sociedade. As mulheres negras têm menos acesso ao apoio do poder público e essa violência chega muito mais perversa e contundente às mulheres negras”, afirmou a major Denice.

*Informações da Contraf-CUT.

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