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Imprensa SeebRio
O governo Bolsonaro, assim como os bancos privados não investem no desenvolvimento econômico e social do país, aumentando a concentração de renda, as desigualdades sociais e regionais e a dependência externa brasileira. Esta foi uma das principais conclusões a que se chegou a partir da palestra feita pelo economista Fernando Amorim do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), neste sábado, à tarde, durante o debate sobre “Sistema Financeiro e o Desenvolvimento Sustentável”, na I Conferência dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro, realizada pela nova Federação das Trabalhadoras e Trabalhadores do Ramo Financeiro (Federa-RJ).
Lembrou que a política econômica é voltada para o corte de investimentos públicos, sob a alegação da necessidade de se fazer um duro ajuste fiscal, ampliando com isto, a contração da atividade econômica, política mantida mesmo durante a pandemia, aprofundando seus efeitos e dificultando a retomada do crescimento. Fazem parte desta política, ainda, a desvalorização do real e a tentativa de controlar a inflação através, somente, da alta da Selic (a taxa básica de juros). Frisou que devido a este modelo, o Produto Interno Bruto (PIB), cresceu apenas 1,2%, nos últimos 12 meses, puxado por setores primários produtores de comodities, entre eles mineradoras e agronegócio, voltados mais para o comércio exterior, gerando quase nenhum impacto sobre o mercado interno, seja para o aumento do consumo e recuperação da atividade econômica, ou para a geração de empregos.
“Estes setores exportadores foram beneficiados pela alta desvalorização do real, fator que, juntamente com a política de variação dos preços dos combustíveis acompanhando os do mercado internacional, ajudou a disparar a inflação, dificultando ainda mais a situação”, explicou. Lembrou que este contexto pode piorar porque para conter a inflação o Banco Central vem aumentando a taxa Selic. Observou, no entanto, que esta prática não terá o efeito desejado, já que a inflação não é causada pelo aumento da demanda (alta do consumo de bens e serviços), mas pelos efeitos da desvalorização do real sobre os preços dos importados e pelo ajuste de combustíveis, atingindo sobretudo os mais pobres.
“O país não consegue crescer. O consumo das famílias continua caindo e a inflação aumenta com força; a indústria cresceu apenas 0,7%. O PIB per capta é o mais baixo desde 2013. O desemprego, no primeiro trimestre, chegou a 14, 7%. Para complicar, o BC está aumentando a taxa Selic”, lembrou.
Mostrou dados comprovando que, como o governo federal, os bancos privados também não investem no desenvolvimento nacional. Disse que o setor privado quer retorno imediato, não se interessando em financiar regiões mais pobres. Acrescentou que isto acontece, mesmo tendo os quatro maiores bancos lucrado cerca de R$ 44 bilhões no primeiro trimestre (incluindo o BB), um aumento de 55% em média, em relação ao mesmo período de 2020. “O lucro do Itaú foi de R$ 12,9 bilhões (aumento de 60%); o do Bradesco foi de R$ 12,8 bilhões (68%); BB, R$ 9,9 bilhões (48,2%); e Santander, R$ 8,1 bilhões (40%).
Citou dados do crédito bancário no estado do Rio de Janeiro, como exemplo da falta de investimentos do sistema financeiro privado: dos 34 bancos com representação no estado, apenas cinco têm linhas de crédito nas cidades do interior. “Do crédito do setor bancário, 72% são voltados para a capital e apenas 22% para o interior. Do total de agências, 56% estão na capital e 44% no interior. Já se pegarmos só os bancos públicos (BB e CEF) são responsáveis por 72% do crédito concedido a municípios do interior”, disse.
Observou que para preencher esta lacuna deixada tanto pelo governo, quanto pelos bancos privados, devem ser definidas políticas regionais, como as já existentes na cidade de Maricá – onde foi criado um fundo soberano de investimentos com recursos provenientes dos royalties do petróleo – cooperativas e até mesmo, Fintechs sociais, com taxas especiais de financiamento. Lembrou que, diferentemente dos governos Lula e Dilma, o atual não se utiliza, não apenas dos bancos públicos, mas de estatais como a Petrobras e a Eletrobrás, como importantes implementadoras de políticas públicas para o desenvolvimento nacional.
Não descartou deste rol a volta dos bancos estaduais. Lembrou que no Espírito Santo, onde o Banestes e o Bandes não foram privatizados, hoje financiam diversos setores, com recursos de um fundo soberano com recursos do royalties do petróleo. “Financiam o desenvolvimento, levando em conta as prioridades do estado”, disse.