Quarta, 07 Abril 2021 16:33

Dia do Jornalista: com ataques de Bolsonaro e recorde de contaminados pela covid, categoria não tem o que comemorar

"Cala a boca aí, pô!", diz Bolsonaro a repórteres em frente ao Palácio do Planalto "Cala a boca aí, pô!", diz Bolsonaro a repórteres em frente ao Palácio do Planalto

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Imprensa SeebRio

No Brasil, 7 de abril é o Dia do Jornalista. Mas a categoria não tem muito o que comemorar. Segundo levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o país é o que tem o maior número de profissionais de imprensa contaminados pela covid-19 em todo o mundo. Também foram alvo de 428 ataques ao seu trabalho, em 2020, a maioria feita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Entre os ataques estão agressões verbais, físicas e virtuais, censura, intimidações, ameaças, assédio judicial, atos de descredibilização da imprensa e até assassinatos.

Os jornalistas enfrentam, ainda, a ganância dos empregadores. A categoria tem sido sistematicamente submetida à precarização de seus direitos, como a contratação como pessoa jurídica (pejotização) e a terceirização, além do arrocho salarial, as demissões e a não reposição de mão de obra.

Covid-19: governo genocida

Segundo o dossiê “Jornalistas vitimados por Covid-19”, referente ao primeiro trimestre de 2021, o Brasil é o país com o maior número de mortes pelo novo coronavírus no mundo. De acordo com levantamento elaborado pelo Departamento de Saúde da Fenaj, a partir de notícias e de acompanhamento pelos Sindicatos da categoria no país, 169 jornalistas morreram entre abril de 2020 e março de 2021 vítimas da doença.

O dossiê também mostra que, em três meses de 2021, o número de mortes supera todo o ano de 2020, quando foram registradas 78 mortes de abril a dezembro. Este ano, são 86 vítimas, percentual 8,6% maior que no total de 2020.

Conforme Norian Segatto, diretor do Departamento de Saúde da Fenaj e responsável pela sistematização do dossiê, no primeiro trimestre de 2021 a média é de 28,6 mortes de jornalistas por mês. “Os 169 casos apurados até agora são resultado da necropolítica do governo federal. Os números mostram a urgência de a sociedade se posicionar contra o governo genocida de Jair Bolsonaro”, afirma o dirigente.

Truculência de Bolsonaro

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Brasília, em conjunto com a Fenaj, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e várias outras entidades, denunciou o presidente Jair Bolsonaro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), e ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ONU), pelas constantes violações praticadas contra profissionais de imprensa.

Nos documentos as entidades apresentam um histórico sobre as várias investidas contra jornalistas durante o exercício da profissão, praticados pelo presidente e por seus apoiadores. Em relação às violências mais recentes, as entidades elencam uma série de episódios ocorridos em frente ao Palácio da Alvorada, em que o próprio age com truculêrncia contra os jornalistas e se recusa a conceder entrevista. Tais fatos são reforçados por agressões desferidas por apoiadores. “Mídia lixo”, “comunistas”, “safados” são alguns dos insultos relatados.

Campeão de ataques

O Brasil foi novamente palco de uma intensa campanha de ataques ao exercício profissional em 2020, aponta relatório divulgado pela (Fenaj) em 26 de janeiro último. Ao todo, foram 428 investidas contra jornalistas, veículos e a imprensa em geral. Entre estes estão agressões verbais, físicas e virtuais, censura, intimidações, ameaças, assédio judicial, atos de descredibilização da imprensa e até assassinatos.

O número é 105,77% superior ao registrado em 2019, quando a entidade listou 208 ocorrências. É o número mais alto desde 1990, quando a Fenaj começou a coletar os dados.

Tal como ocorreu em 2019, o presidente Jair Bolsonaro foi mais uma vez o principal ator dos ataques, sendo responsável por 175 casos (40,89% do total). Nesse cálculo estão 145 ataques genéricos e generalizados a veículos de comunicação e a jornalistas; 26 casos de agressões verbais; um caso de ameaça direta a jornalistas; uma ameaça à TV Globo; e dois ataques à Fenaj.

A entidade ainda aponta que o comportamento e as políticas de Bolsonaro também continuam a incentivar em 2020 que seus auxiliares e apoiadores "adotassem a violência contra jornalistas como prática".

"A explosão de casos está associada à sistemática ação do presidente da República, Jair Bolsonaro, para descredibilizar a imprensa, e à ação de seus apoiadores contra veículos de comunicação social e contra os jornalistas. Ela começou em 2019 e agravou-se em 2020, quando a cobertura jornalística da pandemia provocada pelo novo coronavírus foi pretexto para dezenas de ataques do presidente e dos que o seguiram na negação da crise sanitária", aponta a federação.

A entidade também lista 32 casos de agressões físicas a jornalistas. O relatório destaca casos de repórteres agredidos por apoiadores de Bolsonaro nos atos golpistas que ocorreram no primeiro semestre de 2020.

Relembre os casos

Entre os 76 ataques verbais ou virtuais a jornalistas, a entidade destaca falas de Bolsonaro. Em fevereiro, por exemplo, o presidente insinuou de maneira mentirosa que a repórter Patrícia Campos Melo, da Folha de S. Paulo, trocou favores sexuais por informações contra o presidente. O ataque sexista causou ampla condenação à época. Não foi o único.

Em maio, em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente mandou um jornalista da Folha "calar a boca". Bolsonaro também fez vários ataques a jornalistas em suas lives semanais. Entre os alvos regulares do presidente estão os jornalistas Guilherme Amado, da revista Época, e Vera Magalhães, que ao longo de 2020 atuou no jornal O Estado de S. Paulo e agora está no Grupo Globo.

Já entre os ataques virtuais, o relatório destaca o caso da repórter fotográfica Gabriela Biró, do jornal O Estado de S. Paulo, que teve seus dados pessoais vazados em redes sociais por um apoiador de Bolsonaro. Foram divulgados os números do RG e CPF, além de endereço e telefone da jornalista.

Intimidação e censura

Entre os 34 casos de intimidação ou ameaças registrados em 2020, o relatório menciona dois pedidos de inquérito apresentados pelo ministro da Justiça, André Mendonça, contra os colunistas Ricardo Noblat, da revista Veja, e Hélio Schwartsman, da Folha, além do chargista Aroeira.

Nos casos de censura listado pela Fenaj, a situação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ligada ao governo, recebeu destaque negativo. Foram 76 casos do tipo na empresa, que deixou de publicar reportagens que desagradem o governo e vetou até mesmo a expressão "ditadura" para se referir ao regime militar em suas reportagens.

A Fenaj ainda citou que ocorreram dois assassinatos de jornalistas em 2020, mesmo número de 2019.  O relatório afirma que "o registro de duas mortes de jornalistas, por dois anos seguidos, é evidência concreta de que há insegurança" para o exercício profissional.

Os jornalistas assassinados em 2020 foram Léo Veras, que publicou reportagens sobre crime organizado na fronteira com o Paraguai, e Edney Neves, que atuava na campanha à reeleição da prefeitura de Peixoto de Azevedo (MT).

 

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