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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Olyntho Contente*
Imprensa SeebRio
A bancária Cibele Lopes, empregada da Caixa Econômica Federal, foi vítima de um ato racista cometido por uma cliente, dentro da agência Boa Vista, no Recife. O Sindicato dos Bancários de Pernambuco, prontamente, se solidarizou com a trabalhadora e colocou a assessoria jurídica à disposição para representá-la.
Numa entrevista à jornalista do Sindicato de Pernambuco, Beatriz Albuquerque, Cibele fez um desabafo: “Só sabe a dor quem passa. Sou uma mulher negra e sofro muito preconceito”, disse.
De acordo com o relato da bancária e de testemunhas, no dia 29 de junho, uma cliente do banco, que atua como advogada, proferiu palavras carregadas de preconceito racial, direcionadas à Cibele, no pleno exercício da sua profissão, utilizando-se de um comentário ofensivo e discriminatório a respeito de seus cabelos.
A bancária registou Boletim de Ocorrência na Central de Flagrantes e contou com o testemunho de colegas de trabalho e também do cliente que estava atendendo. A assessoria jurídica do Sindicato acompanhou o depoimento e orientou a bancária no registro do crime.
“Não é a primeira vez que eu preciso do Sindicato, e todas as vezes, sempre recebi muito apoio. O advogado foi para a delegacia para me acompanhar, ficou comigo até concluir tudo. O apoio que recebi foi muito importante para não ficar com medo, não me sentir sozinha”, afirmou Cibele.
Contraf-CUT: racismo é crime
Almir Aguiar, ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e diretor da Secretaria de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contra-CUT), frisou que os casos de preconceito, na sociedade e no mercado de trabalho, têm ocorrido com muita frequência, o que se agravou como consequência da postura racista do governo anterior. “Por isto, é fundamental combater toda a forma de preconceito, seja através da contratação de negros e negras nos bancos, mas também para combater estas atitudes racistas que a gente vem percebendo no dia a dia”, afirmou.
Disse que foi importante a iniciativa da bancária de procurar o departamento jurídico do Sindicato de Pernambuco, devendo o exemplo ser seguido em todo o país. “É fundamental também fazer a denúncia pública, além de registrar queixa na delegacia. São formas de avançar na luta antirracista e, principalmente, fazer cumprir a lei 14.532, assinada em janeiro pelo presidente Lula, que equipara a injúria racial ao crime de racismo, que pode levar à prisão”, lembrou.
Frisou que a sociedade tem de usar de todas as formas para conter estes atos racistas. “A Contraf-CUT se solidariza com a bancária e coloca a sua estrutura à disposição para ajudá-la no que for preciso”, afirmou.
Cliente foi autuada e detida
“Essa situação é algo que se repete, não é um fato isolado. Não especificamente sobre o meu cabelo, mas como eu sou uma mulher negra, muitas vezes as pessoas não acham que eu sou gerente ou empregada da Caixa. Por isso, faço questão de usar sempre o crachá. Já deixei passar outras vezes, mas agora não. Desta vez, eu decidi denunciar para que a pessoa pague pelo que ela falou. Chamei a polícia, a viatura chegou rapidamente na agência e ela foi autuada e detida. Eu tive apoio das pessoas que estavam ao meu redor, que falaram para essa pessoa que isso é racismo. O apoio dos colegas da agência foi o que me fez dizer 'não, não vou me calar desta vez'”, relatou Cibele.
A bancária disse ter decidido denunciar o caso por se sentir fortalecida por esta rede de apoio e pensar que outras pessoas, que passam pela mesma situação, muitas vezes não tem como se defender e chegam a acreditar nas ofensas proferidas por pessoas racistas. “Muita gente escuta essas ofensas e acredita no que essas pessoas dizem. Eu nunca acreditei que eu não poderia por conta da minha cor. Acho que agora ela vai pensar duas vezes antes de ofender qualquer pessoa”, completou.
Apoio do Sindicato
Seguindo como princípio o respeito à diversidade e exercício da prática antirracista, o Sindicato dos Bancários de Recife acolheu a bancária por meio do Coletivo de Combate ao Racismo. “O racismo estrutural está presente em todos os lugares. No caso de Cibele, o apoio que recebeu dos colegas da Caixa foi muito importante. O Sindicato reforçou esse apoio para que ela tivesse forças para o enfrentamento. Isso significa que não vamos mais admitir esse tipo de prática racista, que macula a imagem, a honra e a autoestima das pessoas. Estaremos sempre de prontidão para assistir à nossa base, nos casos de racismo, violência e assédio, que acontecem no local de trabalho“, afirmou Eleonora Costa, coordenadora do Coletivo.
Para a entidade, a luta contra o racismo é uma responsabilidade coletiva, que deve ser abraçada por todos os setores da sociedade, incluindo instituições financeiras, como a Caixa Econômica Federal. “Repudiamos qualquer tipo de discriminação, seja ela baseada em raça, cor, gênero, orientação sexual ou qualquer outra característica individual. Episódios de racismo ferem não apenas a dignidade e a integridade de indivíduos, mas também corroem os alicerces de uma sociedade democrática. Por isso, reforçamos nosso apoio irrestrito à bancária Cibele Lopes, assim como expressamos nossa solidariedade a todos que são atingidos diariamente pelo racismo estrutural e estruturante no nosso país”, destacou o presidente do Sindicato, Fabiano Moura.
*Com informações da matéria de Beatriz Albuquerque, da Imprensa do Sindicato dos Bancários de Pernambuco.