Quinta, 09 Agosto 2018 16:12

Em que escola o general aprendeu a disseminar o ódio racial ?

É com perplexidade que assistimos o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice-presidente na chapa de seu subalterno na hierarquia militar, o capitão Jair Bolsonaro, expressar todo o preconceito e discriminação que a classe dominante no Brasil possui em relação aos negros e índios. Mourão disse pejorativamente, que o Brasil herdou a “indolência” dos indígenas e a “malandragem” dos africanos. Talvez ele nem saiba, mas seus argumentos para tentar explicar os motivos de o porquê o Brasil não consegue ser um país de primeiro mundo, têm origem nas teorias antropológicas mais atrasadas e há muito superadas, com raízes na vertente "evolucionista". Esta teoria pressupõe um único caminho de desenvolvimento possível na humanidade e é baseada numa visão etnocêntrica, aquela que tem como parâmetro apenas o olhar para a cultura de si mesmo, anglo-saxã, branca, europeia, capitalista e cristã. Eram estes os conceitos que os europeus "civilizados" usavam para justificar a espoliação de negros e índios, considerados "selvagens", "primitivos", "atrasados", "pagãos", culturas “inferiores” que teriam de ser exterminadas ou domesticadas pelo processo de aculturação.
Não merece nem citação a tentativa do capitão de consertar o estrago histórico e conceitual feito pelo general, ao dizer à imprensa que "indolência" é sinônimo de "capacidade de perdoar”, e não de "preguiça" e "ócio”, desleixo", como nos ensina qualquer dicionário de cabaceira.

A disseminação do ódio

Tamanho descalabro dos dois militares e candidatos nos levam a perguntar: o que estão ensinando na Escola Superior de Guerra? Qual a visão sociológica e antropológica permeia os currículos militares e o que fizeram das ciências políticas na formação do oficialato brasileiro?

E imaginar que os candidatos querem disseminar Brasil à fora, as escolas militares que parecem produzir com fartura, ignorância e dissintonia em relação à realidade, à cultura e à formação étnica brasileira, além de preconceito e ódio, complexo de vira-latas em relação a si mesmo e desprezo pela democracia e pelas ideologias de cunho social.
Baseado nestes princípios foi que Hitler disseminou a política do ódio, não apenas a judeus, mas igualmente a comunistas e homossexuais. O sintoma anômalo parece se repetir em uma parcela da sociedade brasileira que se identifica com uma mitificação de um candidato que preconiza a mesma intolerância a tudo o que contradiz seus próprios valores culturais, religiosos e ideológicos. Acusar o capitão e o general de "fascistas" não é meramente uma retórica.

A perseguição política

Quem defende com tanto afinco a ditadura não tem condições morais de querer impor, aos berros, suas convicções políticas em nossa combalida democracia, hoje distorcida pelo ativismo judicial e pelo moralismo tosco da toga manchada pela perseguição política ao maior líder popular vivo: Luiz Inácio Lula da Silva.

A visão do general é a vertente da plutocracia, para os gregos o poder exercido pelos mais ricos. Os neoplutocratas vivem ou têm a cabeça em Miami ou Paris. Acumulam riqueza nas aplicações financeiras do rentismo e têm desapreço pela democracia e pela pátria de origem. O parâmetro é sempre o liberalismo que os EUA propagam, mas nunca praticam em sua terra.

A singularidade brasileira

O que o general chama de "indolência" indígena é meramente o cotidiano de uma civilização que não desassocia o trabalho do prazer e não tem como valor, o acúmulo de riqueza e nem a propriedade privada.

Ao contrário do que supõe o ignorante general, é esta mistura da riqueza cultural indígena, negra e europeia, que faz do Brasil uma nação única, que poderá ainda consolidar seu destino civilizatório, desde que seu povo tenha condições mínimas para garantir sua emancipação e a nação, a sua soberania. O processo social e histórico brasileiro está repleto de exemplos de rebeliões dos negros em busca de sua liberdade e de resistência dos índios ao trabalho forçado e ao modelo de "felicidade" do capitalismo ocidental.

Este processo social está vivo no povo brasileiro, que espera a sua hora para dar resposta ao ataque contra seus direitos, implementado por estes setores racistas e preconceituosos da sociedade. O extremo do ideal reacionário saiu do armário e consolidou um projeto da máxima mais-valia e da espoliação e de um atentado ao estado democrático de direito, que as viúvas da ditadura, hoje aliadas ao ativismo moralista da toga, tentam impor ao Brasil e aos brasileiros.

Almir Aguiar – Secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT

Mídia