Quinta, 15 Agosto 2019 23:18

Medidas do governo aumentam crise econômica

Adhemar Mineiro, ex-técnico do Dieese: “Em consequência da política econômica do governo a economia tende a se contrair cada vez mais” Adhemar Mineiro, ex-técnico do Dieese: “Em consequência da política econômica do governo a economia tende a se contrair cada vez mais” Roberto Parizoti

Queda do consumo, da produção, aumento do número de falências, queda substancial da renda, alto desemprego e piora na qualidade dos serviços públicos prestados à população em consequência dos cortes de verbas. Estes são os impactos sentidos na economia brasileira após seis meses de uma política econômica contracionista posta em prática pelo banqueiro Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro (PSL-RJ).

Segundo economistas, esta é a pior recessão já vista em 13 anos no país. A economia brasileira sofreu retração de 0,13% no segundo trimestre de 2019, de acordo com o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br). O dado é uma espécie de “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (12). A queda entre abril e junho deste ano foi verificada na comparação com o primeiro trimestre de 2019.

Estagnação

No primeiro trimestre, já tinha sido medida uma queda de 0,2%. Com isto, o Brasil entrou no que os economistas chamam de recessão técnica, com alta do desemprego e dos índices de falência, queda da produção e do consumo. O setor de serviços registrou retração de 0,6% no segundo trimestre, a produção industrial caiu 0,7% e as vendas do comércio 0,3%. O desemprego é muito alto: de 2014 para 2018, dobrou o número de trabalhadores desempregados. Eram pouco mais de 6 milhões e hoje são 13 milhões.

Para o economista Adhemar Mineiro, ex-técnico do Dieese, em consequência da política econômica do governo a economia tende a se contrair cada vez mais, a curto e médio prazos, trazendo queda da produção e da oferta de emprego. Mesmo que Paulo Guedes tome medidas de incentivo ao consumo que sempre criticou, os efeitos, se houver, só serão sentidos daqui a dois anos.

Mineiro acrescentou que os problemas criados no mercado internacional só tendem a aprofundar a crise econômica no Brasil. Para o economista, o alinhamento aos EUA e a proximidade com Israel geram possível perda de mercados junto à China e a países muçulmanos, como visto recentemente no episódio do alinhamento às sanções dos EUA em relação ao Irã e à perda de exportações de milho. “Temos que ver até onde isso vai, mas especialmente em relação à China, existe uma enorme possibilidade de perda de mercados para uma série de produtos de exportação (commodities agrícolas, minerais e energéticas) sem a contrapartida de novos mercados nos EUA, já que em boa parte dos produtos (em especial os agrícolas) os EUA são nossos competidores”, advertiu.

Vendas caem, falências aumentam

O volume de vendas do comércio varejista caiu 0,1% em maio, na comparação com o mês anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrando estagnação da economia. Outro dado preocupante é o aumento dos pedidos de falência em 53,8% em julho na comparação com junho, segundo dados da Boa Vista Serviço de Proteção ao Crédito.

Já o percentual de famílias endividadas no país cresceu de 64% em junho para 64,1% em julho deste ano. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), é a sétima alta consecutiva do indicador.

Reforma piora economia

A reforma da Previdência será um novo elemento de contração da economia, ao ampliar o tempo para a aposentadoria e reduzir drasticamente os valores deste benefício e das pensões, hoje e no futuro. Será menos dinheiro circulando na economia, diminuindo o consumo, as vendas e a produção. A reforma agravará ainda mais a concentração de renda e trará queda da própria arrecadação previdenciária pelo desalento dos trabalhadores mais jovens com a Previdência futura. 

Avaliação negativa

Mesmo o chamado ‘mercado’ – grandes empresas, bancos, megainvestidores em bolsas de valores e especuladores os mais variados –, avaliam que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) para o segundo trimestre, que será divulgado pelo IBGE no fim do mês, deve ficar próximo de zero ou negativo. Uma eventual retração — a segunda consecutiva, confirmará o estágio de recessão técnica da economia brasileira.

 

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