Sexta, 29 Março 2019 18:47

DITADURA NUNCA MAIS! O que você comemora diz muito a seu respeito

Adriana Nalesso Presidenta do Sindicato dos Bancários Rio Adriana Nalesso Presidenta do Sindicato dos Bancários Rio

Comemorar é celebrar, festejar, homenagear. Comemorar é compartilhar alegria por algo digno aplauso, que nos traz felicidade. Comemoramos os nascimentos, as formaturas, as conquistas. Brindamos à vida, sempre com sorriso aberto e muitas vezes com lágrimas de emoção.
No momento em que se debate a orientação do presidente de comemorar o golpe de 1964 é fundamental pensar sobre isso. É fato: a derrubada de João Goulart do governo mergulhou o país em 21 anos de ditadura. Cada um de nós pode ser simpático ou não aos militares, mas não se pode negar a realidade: o regime ditatorial no Brasil foi sangrento. A Comissão da Verdade comprovou 434 mortos ou desaparecidos, vítimas da ditadura. No poder, os militares realizaram prisões arbitrárias, torturaram, mataram. Não é agradável recordar, mas é necessário: choques elétricos, ratos colocados nas vaginas, estupros, afogamentos, crianças torturadas para que fragilizar os pais. Esses eram os métodos utilizados pelo Estado para arrancar confissões.
Não havia espaço de reivindicação, não havia respeito aos direitos e, ao contrário do que muitos acreditam, havia sim corrupção, abafada, impossível de denunciar pela força bruta das Forças Armadas. Os trabalhadores foram diretamente prejudicados, perderam seu poder de exigir direitos, um quadro que só mudou porque houve quem tivesse coragem de enfrentar a ditadura. Muitos pagaram com suas vidas. Foi o caso do bancário do Banco do Brasil, Aluízio Palhano. Ex-presidente do nosso sindicato, foi cassado pelo Ato Institucional nº 5, o AI 5. Foi morto em 1971, mas somente no ano passado, 47 anos depois, sua ossada foi localizada e a família pôde se despedir dele. Uma brutalidade absurda, inaceitável.
Quem é capaz de comemorar um momento tão triste de nossa história? Quem é capaz de festejar tanta crueldade? Não se trata de ter um ou outro posicionamento político. O que estamos discutindo são os princípios básicos do respeito, da solidariedade, do cumprimento da legislação. O Estado não pode compactuar com sentenças de tortura e morte totalmente à margem da lei. Quem apoia esse tipo de ação hoje pode ser vítima da força bruta amanhã. Muitos dos que foram atingidos pela ditadura não eram nem mesmo militantes ou ativistas, apenas discordavam dos governos militares. Por isso, perderam o direito a voz, ao trabalho e até à vida. A crueldade da ditadura foi reconhecida por organismos internacionais. A Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que “Comemorar o aniversário de um regime que trouxe tal sofrimento à população brasileira é imoral e inadmissível em uma sociedade baseada no estado de direito”.
Relembrar a história dos que foram brutalmente assassinados é deixar claro que não podemos compactuar com qualquer movimento de apoio à ditadura. Por isso, dizemos: Palhano, presente! Ditadura nunca mais!

Adriana Nalesso
Presidenta do Sindicato dos Bancários Rio

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