Sexta, 21 Março 2025 12:55
LUTA CONTRA O RACISMO

Brasil ainda explora, discrimina e executa negros e negras das comunidades pobres

Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, celebrado nesta sexta-feira (21), é importante para a sociedade refletir sobre os desafios na luta contra o racismo

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Nesta sexta-feira, 21 de março, é celebrado o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, estabelecido pelas Organização das Nações Unidas (ONU). 

A data foi criada em função do “Massacre de Shaperville”, em 1960 na África do Sul, quando cerca de 20 mil sul-africanos protestaram contra a determinação imposta pelo governo da época, de limitar os locais onde a população negra poderia circular.

A manifestação, inteiramente pacífica, foi reprimida com violência por militares por ordem do governo. Foram disparados tiros contra os manifestantes, resultando na morte de 69 pessoas e mais de 180 feridos. 

"O veneno do racismo continua a infectar nosso mundo, um legado tóxico da escravidão histórica, do colonialismo e da discriminação. Ele corrompe comunidades, bloqueia oportunidades e arruína vidas, corroendo os próprios fundamentos da dignidade, da igualdade e da justiça", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres. 

Execução de negros 

O secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e diretor do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Almir Aguiar, lembra que o Brasil ainda é um país extremamente racista.

"Apesar de avanços importantes, como a sanção do presidente Lula à Lei 14.532, de 2023, que tipifica como crime de racismo a injúria racial, com a pena aumentada de um a três anos para de dois a cinco anos de reclusão, temos ainda muitos desafios a serem enfrentados. A execução de jovens negros das comunidades pobres representa a expressão máxima do racismo estrutural e da utilização de um verdadeiro aparato militar de guerra contra a população negra. Em 2023, 4.025 pessoas foram mortas por policiais no Brasil. Dos 3.169 casos em que foram disponibilizados oficialmente dados de raça e cor, 2.782 das vítimas eram pessoas negras, o que representa 87,8%", explicou Almir, citando os números da Rede de Observatórios da Segurança. 

"As ações policiais matam um negro a casa 4 horas em nove estados brasileiros", acrescentou, criticando as políticas de segurança pública de estados como Bahia, Rio de Janeiro, Pará, São Paulo e Ceará, que lideram, nessa ordem, o número de pessoas negras pobres assassinadas por policiais. 

O racismo persuate

Almir afirma que o racismo está nas raízes culturais de um Brasil que construiu seu processo civilizatório através da exploração da mão de obra escrava vinda da África. 

"Perdura em nosso país, uma cultura racista da elite branca, a Casa Grande, que explora, humilha e executa negros e negras, tratados ainda como a senzala, na visão discriminatória das classes dominantes", ressaltou,  destacando que há uma extrema-direita que tirou do armário um racismo que sempre existiu, mas que assumiu essa postura até mesmo como uma política de estado, como ocorreu no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

"Não podemos tratar como natural um presidente da República que disse que negros e negras das comunidades quilombolas 'não servem nem para procriar' como fez Bolsonaro. Ele precisa responder por mais um crime, o de racismo", concluiu o dirigente sindical.

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