Sexta, 07 Fevereiro 2025 19:17

Bancos tem saldo negativo e estão na contramão do Brasil que gerou mais empregos em 2024

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Com informações da Contraf-CUT 

Enquanto o Brasil apresenta sinais positivos na geração de empregos,com uma taxa média do desemprego que recou a 6,6% em 2024, o menor patamar da série histórica iniciada em 2012, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), os bancos continuam na contramão dos dados animadores no mercado de trabalho do país. 

O setor bancário eliminou 6.198 postos de trabalho em 2024, segundo dados da Pesquisa do Emprego Bancário elaborada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base no Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). 

Contabilizando apenas as atividades econômicas com mais de 10 mil trabalhadores e excluindo a categoria bancária, nota-se que, de 458 atividades, 407 abriram novas vagas (+1,7 milhão de postos de trabalho) e 51 atividades reduziram vagas (-44,9 mil). Isto é, 88% com saldo positivo o que enfatiza o bom desempenho das demais categorias na geração de empregos, ao contrário do que acontece no setor bancário. 

Além de frear o desenvolvimento econômico com os juros mais altos do Planeta, os bancos impactam negativamente nos empregos, fechando agências e demitindo funcionários. 

Setor financeiro 

Em 2024, os bancos tiveram um saldo negativo no emprego em que as demissões superaram as contratações de março a dezembro (10 meses), resultando no saldo de quase 6,2 mil postos de trabalho a menos no setor no ano. 

Apenas nos meses de janeiro e fevereiro o saldo foi positivo. 

Em dezembro o saldo negativo foi de 771 postos a menos, mas em outros três meses do ano (março, julho e agosto) a perda de postos de trabalho foi ainda maior, quando foram fechados 815, 1.424 e 1.684 postos de trabalho, respectivamente.

O estudo do Dieese revela que "a maior responsabilidade pelo fechamento de vagas no setor está associada aos Bancos Múltiplos com Carteira Comercial, atividade em que estão inseridos os principais bancos privados (especialmente Itaú, Bradesco e Santander), além do Banco do Brasil, com a extinção de 3.608 vagas, e a Caixa Econômica com a eliminação de 3.198 vagas bancárias”. 

O número de desligamentos realizado pela Caixa foi ampliado consideravelmente em função da adesão dos trabalhadores ao Plano de Desligamento Voluntário (PDV)  

Bancos digitais 

A pesquisa mostra ainda que as vagas abertas no setor bancário estão associadas à Tecnologia da Informação, área na qual os bancos realizam grandes volumes de investimentos, como a ocupação Analista de Desenvolvimento de Sistemas, que sozinha foi responsável por 1.601 vagas abertas no setor.

Já as ocupações tradicionalmente ligadas às agências físicas foram as que mais sofreram com a eliminação de vagas, como é o caso, por exemplo, de gerente de contas, gerente de agência e escriturário de banco, que juntos tiveram mais de 6,5 mil postos de trabalho extintos. Isto se deve muito em função do avanço dos aplicativos digitais das instituições financeiras e a redução no número de agências físicas, o que representa um grande desafio para a categoria e o movimento sindical. 

Demissões em todo o país 

O setor bancário fechou vagas de trabalho em todas as regiões do país em 2024. Em números absolutos, a Região Sudeste perdeu o maior número de postos de trabalho (-3.133 vagas), seguido pela região Sul (-1.835 vagas), Nordeste (-557 vagas), Centro-Oeste (-475 vagas) e Norte (-198 vagas). Na análise pela proporcionalidade, observa-se que o estoque para cada região encolheu cerca de 1%, exceto para a região Sul, onde a queda foi superior a 3%.

Na análise por unidade da federação, houve aumento das vagas apenas no Distrito Federal (+73 vagas), Maranhão (+26 vagas) e Acre (+12 vagas). Nas demais 24 unidades, verificou-se saldo negativo.

O estado do Rio de Janeiro é o que mais tem sofrido com saldo negativo no emprego (-1.273 vagas), seguido de São Paulo (-931 vagas) e Minas Gerais (-832 vagas). 

Importância dos sindicatos 

O presidente do Sindicato do Rio fala sobre os desafios na luta em defesa do emprego da categoria e a importância da participação dos trabalhadores na atuação dos sindicatos. 

"O caso do Rio de Janeiro é demasiadamente grave, pois há grande concentração de bancos incorporados a exemplo do Itaú que numa cadeia sucessória incorporou Unibanco, este já havia incorporado o Banco Nacional, que incorporou o Bandeirantes, dentre outros. A movimentação dos bancos migrando parte dos clientes para o atendimento remoto/digital e serviços transferidos para outros estados, além da situação de bancários que não suportam a excessiva cobrança pelo atingimento de metas criam um cenário bastante preocupante", explica o dirigente sindical. "Ainda que lutemos pela preservação do emprego e coloquemos nossa estrutura para enfrentar essa situação, inclusive obtendo muitas vitórias na Justiça, não tem sido suficiente. Vamos continuar lutando e cobrando dos bancos a manutenção dos empregos e esse é um de nossos maiores desafios nesse ano de 2025", ressaltou Ferreira, destacando a importância da participação da categoria nas atividades do Sindicato. 

Mulheres mais afetadas

Mais uma vez, há prevalência de saldo negativo entre as mulheres. Dos 6.198 empregos eliminados, 72,8% eram ocupados por mulheres, refletindo a menor contratação feminina, que representou apenas 44% das admissões.

A situação se agravou para as mulheres com o aumento de vagas na área de Tecnologia da Informação, tradicionalmente dominadas por homens.

“Para garantir mais espaço às mulheres no mercado de trabalho, conseguimos, com a pressão dos sindicatos, incluir cláusulas na Convenção Coletiva de Trabalho voltadas à equidade de gênero na tecnologia”, lembra a vice-presidenta do Sindicato do Rio Kátia Branco. 

Por faixa etária 

Em relação à faixa etária, há saldo positivo para as faixas até 29 anos (+8.190 vagas) e negativa para faixas superiores (-14.388 vagas).

Luta por igualdade racial 

Em relação à questão racial em 2024, o saldo para pessoas pretas e pardas foi positivo em 904 vagas, mostrando que a mobilização do movimento sindical e dos movimentos pela igualdade racial tem surtido efeitos. 

As admissões de pessoas negras representaram 35% do total e os desligamentos foram 28,3% da totalidade.

"É uma luta histórica dos sindicatos e do movimento negro o combate ao racismo e a defesa da igualdade de oportunidades. Conquistamos avanços, mas há ainda muita injustiça e desigualdade, especialmente em relação às diferenças salariais e dificuldades para a ascensão profissional", avalia o diretor do Sindicato do Rio e secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar. 

De fato, os números confirmam a declaração do dirigente sindical em relação à média salarial. 

A maior diferença salarial na categoria ocorre entre homens não negros (R$ 8.298,49 na admissão e R$ 9.756,27 no desligamento) e mulheres negras (R$ 5.000,02 na admissão e R$ 5.771,76 no desligamento) que possuem remunerações 39,7% e 40,8%, respectivamente, menores na admissão e no desligamento.

"As mulheres negras sofrem dupla discriminação, de gênero e raça, e esta anomalia precisa ser corrigida", completou Almir.

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