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Uma doença que atinge em alto grau a categoria bancária e cujo número de trabalhadores acometidos se tornou preocupante em todo o Brasil, fez com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluísse o país no rol das nações em que a síndrome de burnout se tornou caso de saúde pública. Com isto, passou, desde a primeira semana deste ano a fazer parte da Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS), na lista de doenças ocupacionais.
Segundo a OMS, a síndrome é resultado do estresse crônico no local de trabalho. Além disso, sobrecargas de tarefas e funções também potencializam a condição, que podem gerar esgotamento físico e mental, assim como a perda de interesse no trabalho, ansiedade, depressão, entre outros sintomas.
Problema grave na categoria bancária – Devido ao aumento da ocorrência desta doença na categoria bancária, a Contraf-CUT deu início em dezembro, a uma pesquisa sobre o assunto, chamada “Conflitos de valores, alterações de identidade e desgaste emocional em bancários”.
O objetivo do psicólogo e pesquisador Rui Carlos Stockinger, da Universidade Católica de Petrópolis (RJ) é melhorar a compreensão de fatores associados à síndrome de burnout, ampliando a possibilidade de diagnóstico e de tratamento, além de apontar as causas da ocorrência e contribuir com propostas de cuidados com a saúde da categoria.
O secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Mauro Salles, disse que a síndrome de burnout representa atualmente um transtorno de enorme prevalência na atualidade. “Ainda é pouco conhecida e, portanto, subdiagnosticada, mas já se sabe que é geradora de outras comorbidades e causa de um número crescente de afastamentos no trabalho com consequências na saúde, nas organizações de trabalho e apresenta crescimento expressivo entre bancários”, disse.
Pressão feita pelos bancos – Lembrou que o nível de adoecimento psíquico na categoria é alto e decorrente da pressão por resultados praticada pelos bancos. “Esta pesquisa vai nos ajudar a entender melhor essa realidade, auxiliando nossa ação sindical para enfrentar a situação, com propostas de novas formas de gestão e de cuidados com a saúde dos trabalhadores”, explicou.
O que é – Conforme reportagem do site Brasil de Fato, a síndrome causa sintomas como esgotamento físico e mental em decorrência de situações relativas ao trabalho. No Brasil, já era motivo de afastamentos e até mesmo aposentadoria com respaldo do INSS e da Justiça. A adoção da classificação da OMS consolida o burnout como uma questão de saúde pública no país.
De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), cerca de 30% das pessoas ocupadas em território nacional sofrem com a doença de ordem mental. O país ocupa a segunda posição no ranking mundial de casos.
“Já há algum tempo o aumento na frequência de afastamentos do trabalho vem sendo um tema do capitalismo internacional. A OMS e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), vêm apontando os transtornos mentais como um problema de risco no trabalho na atualidade”, afirma a professora e pesquisadora Cláudia Osório, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Neoliberalismo aumenta depressão e burnout – A especialista em psicologia e saúde de trabalhadores e trabalhadoras participou do mais recente episódio do podcast Repórter SUS. Na conversa, ela ressalta o peso do pensamento neoliberal e das dinâmicas do capitalismo nessa equação.
"O modo de pensar neoliberal do capitalismo é claramente responsável pelo aumento da frequência de depressão e burnout, principalmente. Mas temos também outras doenças (associadas a esse cenário), como infartos do miocárdio, casos de morte súbita nos corredores da empresa, suicídios de executivos na Europa em suas mesas de trabalho. Tudo isso está no mesmo pacote".
Metas: a principal causa – Nas palavras da professora, a gestão por metas - cada vez mais comuns nos ambientes de trabalho - tende a desconsiderar as condições reais da vida e do trabalho. "A tal da política de excelência coloca uma situação em que as pessoas estão sempre devendo em termos de bom desempenho no trabalho", pontua.
Os sintomas de burnout podem se manifestar de diversas formas e impactam a saúde física, emocional e social. Na lista de sinais que exigem atenção estão a sensação persistente de esgotamento e falta de energia, dificuldade de concentração, irritabilidade e ansiedade.
Além disso, pessoas acometidas pela doença podem apresentar alterações no sono, como insônia ou sonolência excessiva, dores de cabeça frequentes, tensão muscular e problemas gastrointestinais. O desinteresse pelas atividades laborais e a perda de motivação também são comuns.
Isolamento social – Em casos mais graves, o burnout pode levar à depressão, isolamento social e pensamentos suicidas. "Não é qualquer depressão, é um tipo muito específico; por isso, merece a diferenciação. Não são os ossos do ofício. Não é normal que o trabalho leve alguém a um ponto de esgotamento em que um fim de semana não te deixa descansado para retomar na segunda-feira", alerta a pesquisadora.
O cinismo também é um dos sintomas do burnout. Ele se manifesta em comportamentos de indiferença e descaso pelo trabalho. Com o tempo, essa situação pode levar a uma perda total de sentido na função exercida.
“Essa é uma característica que pode até aumentar o preconceito, um tipo de depressão muito focado no trabalho. A pessoa pode ter ânimo para ir ao cinema, estar com a família, brincar com os filhos, e não ter ânimo para trabalhar. É um mecanismo de defesa para a pessoa não desmoronar de vez", explica Cláudia Osório.
Mudar a forma de gestão – A especialista afirma que a solução para o problema está na garantia de participação de trabalhadores e trabalhadoras e na coletividade. Segundo ela, é necessário se pensar em novas relações de trabalho.
“Uma gestão mais participativa de fato - não por enquete, não por pesquisas de clima, mas sim participação de fato - é muito importante. Vemos sindicatos bem intencionados querendo proteger a saúde de seus trabalhadores e brigando por atendimento psicológico, terapia, psicoterapia. Muito mais importante é a mudança das normas de trabalho, do grau de participação dos trabalhadores, da possibilidade da existência de coletivos de trabalhadores fortes no dia a dia de trabalho”.