Quarta, 22 Janeiro 2025 16:55

Especulação imobiliária pode apagar memória importante do Buraco do Lume

Área onde seria construído mais um 'paredão'. Foto do Diário do Rio. Área onde seria construído mais um 'paredão'. Foto do Diário do Rio.

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

Importante área verde do Centro da Cidade – local de manifestações históricas, de centrais sindicais e diversos sindicatos, como o dos bancários, de assembleias massivas contra a privatização do Banerj e de atividades de partidos de esquerda – o Buraco do Lume está sob a ameaça de ser enterrado por um enorme espigão de 20 andares, a ser construído. A informação é do site Diário do Rio.

A publicação explica que a Prefeitura do Rio sempre negou a transação, mas, agora diz estar estudando o caso, o que vem gerando um enorme desgaste para Eduardo Paes. “O X da questão vem agora. O terreno arborizado e seu entorno têm um significado histórico e político profundo, e a possibilidade de um edifício privado se erguer ali gerou uma onda de resistência”, explica o site especializado.

Para Ronald Carvalhosa, diretor do Sindicato dos Bancários do Rio, há uma importante questão politica envolvida. “O Buraco do Lume se tornou um ponto tradicional da esquerda. O pessoal faz prestação de mandatos parlamentares todas as sextas-feiras; tem a estátua da Marielle. Portanto, este projeto é um ataque aos partidos de esquerda e à organização popular”, alertou.

Disse que há também um problema econômico, pois todos sabem que o Centro está cheio de prédios vazios. “Principalmente depois da pandemia, várias empresas entregaram andares inteiros por conta do home-office. Este projeto é tão descabido que até os empresários estão contra. Se já estão com dificuldade de alugar e vender o que já tem para que construir mais? O Centro está precisando de um projeto da Prefeitura de revitalização com aumento da segurança e de áreas verdes”, disse.

Desgaste – Em sua matéria o Diário do Rio acrescenta: “O projeto está em fase de análise, o que foi confirmado pelo Diário do Rio. Em nota enviada à redação, o gabinete do prefeito Eduardo Paes (que inclusive já se pronunciou claramente no passado contra a construção de um prédio na praça), informou que “se aprovado, deverá seguir a legislação em vigor […] Além disso, os órgãos responsáveis pelo entorno de bens tombados serão consultados durante o processo”.

“Ou seja”, segue o texto, “parece que o alcaide mudou de ideia, não sem antes aprovar – o fez no Reviver Centro 2 – um projeto que transformou o terreno em Área de Gabarito Ilimitado: numa faixa imaginária que contém o Lume, o construtor pode sonhar e submeter projetos de qualquer altura. Mas que pensam os urbanistas sobre isso? Consultamos o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade – IRPH, responsável pelo patrimônio cultural da cidade, que preferiu não comentar o polêmico assunto”.

Paredão – Este terreno é basicamente o que resta desocupado do antológico Morro do Castelo, onde nasceu a cidade. Nunca teve uso privado de ninguém, e se tornou privado por linhas transversas. Era uma área pública que foi desmembrada e vendida pelo extinto Banco do Estado da Guanabara (BEG) e acabou jamais sendo efetivamente paga, pois quem prometeu comprar e pagar – o extinto Grupo Lume – faliu antes de quitar o pagamento originalmente combinado. Depois disso, o Estado e a Prefeitura sempre bloquearam a edificação no local, que acabou sendo adquirido num leilão por um investidor imobiliário.

Em dezembro do ano passado, o Diário do Rio revelou a existência de um mega projeto, que estava em fase de liberação, a ocupar finalmente o jardim em frente ao Terminal Garagem Menezes Côrtes, onde antes existia uma construção inacabada, tombado e posteriormente convertido em parte da praça pública. O projeto seria de um edifício residencial, com quitinetes — seguindo a nova tendência imobiliária do Centro — e lojas na fachada, algo exigido em novos empreendimentos por lá, as chamadas “fachadas vivas”.

A proposta – controversa – de erguer um paredão no local é vista por alguns como parte das iniciativas de revitalização do Centro, uma área que a prefeitura tem se esforçado para reabilitar nos últimos anos, promovendo o uso misto de espaços com lojas no térreo para dinamizar a região. Mas a que custo?

Buraco do Lume - Uma área que foi um “buraco” durante várias décadas devido a um projeto falido da empresa LUME, passou a ser um jardim, parte da Praça Mário Lago (antiga Melvin Jones), das áreas mais simbólicas da luta política e social no Centro do Rio. No final de 2022, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) liderada pelo deputado Rodrigo Amorim, aprovou o destombamento do terreno, permitindo que ele fosse transformado em um espaço para construção de um grande edifício residencial, o que foi visto por ele como uma tentativa de aproveitar melhor a área sob a ótica do planejamento urbano. Mas ainda havia entraves na prefeitura, e uma postura dela contrária ao projeto. Para uns, reviver o Centro justifica qualquer coisa. Para outros, é um sacrilégio.

Washington Fajardo, aliado de primeira hora do Prefeito Eduardo Paes. Para Fajardo, esta “sempre foi a orientação da administração Eduardo Paes em seus três exitosos mandatos e são o espírito do Porto Maravilha e do Reviver Centro.” Mas para o arquiteto que gestou a legislação do Reviver Centro, “nunca subtraindo as amenidades ambientais da área. Um grande desafio do Centro é a apropriação do espaço público pela população, que precisa ser cada vez mais organizado, seguro e verde.” E é aí que a história vira: “é urgente que o Ministério Público analise as questões fundiárias envolvidas nesta faixa de terra que é um remanescente direto do Morro do Castelo, cujas apropriações do extinto Banco do Estado da Guanabara e posterior venda mal concretizada pela falência do grupo adquirente necessitam de um due diligence, que é a verificação fina documental e registral, em perspectiva histórica”, cita, demonstrando que a necessidade de atrair moradores para a região deve ter certas limitações.

A secretária de Meio Ambiente e Clima do Rio – além de arquiteta e urbanista – Tainá de Paula se manifestou também contra o uso do terreno para a construção do empreendimento. Para ela, a destinação de parte da praça para um edifício privado não é razoável, especialmente em uma área já densamente ocupada. Tainá defende a requalificação de imóveis e terrenos ociosos, e não o uso de espaços públicos para fins privados.

(Leia matéria completa clicando aqui: https://diariodorio.com/area-verde-do-buraco-do-lume-vai-virar-paredao-novo-espigao-gera-polemica/)

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