Quinta, 25 Abril 2024 15:08

Comandante da Marinha quer barrar homenagem a João Cândido, herói negro brasileiro

Almirante Marcos Sampaio Olsen enviou carta à Câmara dos Deputados chamando de "deplorável " a rebelião de marinheiros liderada por Cândido contra castigos e práticas racistas que foram cometidos pela Marinha Brasileira na época
O almirante Marcos Sampaio Olsen,  tenta barrar homenagem ao marinheiro negro João Cândido,que liderou rebelião contra a violência e práticas racistas Marinha O almirante Marcos Sampaio Olsen, tenta barrar homenagem ao marinheiro negro João Cândido,que liderou rebelião contra a violência e práticas racistas Marinha Foto: Agência Brasil

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, enviou uma carta à presidência da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados na qual se manifesta contrário à inclusão no panteão dos heróis da Pátria, do nome de João Cândido Felisberto, militar negro, líder da Revolta da Chibata, uma rebelião de marinheiros contra os castigos impostos na época pela força militar e outras práticas, inclusive de cunho racista. 

Contestação à homenagem 

A homenagem ao herói marinheiro já foi aprovada no Senado e agora está sendo debatida na Câmara de Deputados. 

 O projeto de lei contestado é de autoria do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) e tem como relatora na Casa a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). 

No ofício encaminhado ao deputado federal Aliel Machado (PV-PR), o militar chama de "deplorável " a rebelião liderada por João Cândido e que contou com a participação de outros marinheiros. 

"Seria como transmitir, em particular aos militares, a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhes foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe", declarou o comandante em seu documento enviado ao parlamento brasileiro.  

Olsen completa afirmando no ofício que "os castigos físicos levados a cabo nos navios, pratica inaceitável, sob perspectiva alguma, e absolutamente incompatível com os caros preceitos morais observados pela sociedade contemporânea, foram reconhecidos, posteriormente, como equivocados e indignos, e os insurgentes, inclusive, anistiados. Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado", afirma, pedindo que os deputados rejeitem a inclusão e afirma que a Força Naval "não vislumbra aderência da atuação de Cândido na Revolta dos Marinheiros com os valores de heroísmo e patriotismo".

No documento, o almirante afirma ainda, que "a posição do líder no conflito representa um flagrante que qualifica reprovável exemplo de conduta para o povo brasileiro".

Preconceito das elites 

O Secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Almir Aguiar, rebateu aa afirmações do comandante da Marinha e criticou o ofício enviado ao Congresso Nacional. 

"As afirmações do almirante não têm nenhuma fundamentação histórica e expressam todo o preconceito e ressentimento que as elites, civis e militares, ainda carregam contra os movimentos de reação da população negra contra o racismo, a exploração do trabalho e toda a forma de injustiça social no Brasil", declarou Almir. 

"Por mais que os militares prezem pela hierarquia, a Marinha não tem como negar que a rebelião de João Cândido foi, antes de tudo, uma ação humanitária contra os maus tratos e humilhações impostas aos trabalhadores marinheiros. Embora a revolta tenha acontecido após a abolição da escravatura, o racismo estrutural permaneceu não só nos quartéis como em toda a sociedade. Cândido foi uma voz pela liberdade e por condições dignas de trabalho", acrescentou o sindicalista.  

"É preciso haver uma mobilização de toda a sociedade em defesa desta homenagem a João Cândido, que não foi apenas um grande líder contra o racismo e as práticas de violência contra trabalhadores na Marinha, mas um verdadeiro herói nacional", concluiu Almir.

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