Quinta, 11 Abril 2024 14:02
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Comando apresenta dados sobre adoecimento e cobra um ambiente de trabalho saudável para a categoria

Comando Nacional apresenta aos bancos pesquisa que mostra a política desumana de metas e a sobrecarga de trabalho como principais causas de doenças ocupacionais
O Comando Nacional dos Bancários provou com números e embasamento científico que a política de metas desumanas dos bancos adoece um número cada vez maior de trabalhadores na categoria O Comando Nacional dos Bancários provou com números e embasamento científico que a política de metas desumanas dos bancos adoece um número cada vez maior de trabalhadores na categoria Foto: Contraf-CUT

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Com informações da Contraf-CUT 

O Comando Nacional dos Bancários, juntamente com o Coletivo Nacional de Saúde, apresentou à Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), dados alarmantes da pesquisa sobre a situação do adoecimento da categoria bancária, em reunião realizada na manhã desta quinta-feira (11). 

Os números apresentados são da pesquisa “Avaliação dos Modelos de Gestão e das Patologias do Trabalho Bancário”, realizada pela Secretaria de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, em colaboração com pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UNB). 

Os números da pesquisa 

Entre muitos dados impactantes, os que mais chamou a atenção é que cerca de 80% dos trabalhadores do ramo financeiro declaram ter tido pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho nos últimos 12 meses. Deste total, quase metade está em acompanhamento psiquiátrico. O principal motivo declarado para buscar tratamento médico foi o trabalho. Entre os que estão em acompanhamento psiquiátrico, 91,5% estão utilizando medicações prescritas pelo psiquiatra, um percentual que cai para 64,4% entre os que estão em outros tipos de acompanhamentos médicos, o que confirma as denúncias do movimento sindical de que as doenças psíquicas crescem cada vez mais no percentual entre todos os demais tipos de doenças do trabalho, suoerando inclusive as LER/Dorts.

Modelo que adoece 

Segundo a pesquisa, o atual modelo não apenas dita as condições laborais, mas também é identificado como uma causa de psicopatologias, que afeta os laços sociais dos funcionários, com adoecimento e agravos à saúde mental.

A coordenadora da pesquisa, doutora Ana Magnólia Mendes, explicou que as doenças psíquicas na categoria estão diretamente relacionadas a discursos e práticas de controle, caracterizadas pelo foco nas metas, o controle exacerbado, a despersonalização dos trabalhadores, a presença de uma hierarquia rígida e o uso de ameaças como ferramentas de gestão, intensificando a competitividade e o produtivismo nas relações de trabalho marcadas pela violência psicológica e sobrecarga. 

“Também a presença intensa de relações competitivas, marcadas pela exclusão dos funcionários na tomada de decisão da organização, pelo cerceamento da autonomia no trabalho, pela distribuição injusta, pela indefinição de tarefas e pela presença de disputas profissionais no local de trabalho estimuladas pela chefia, intensificam a violência no trabalho”, completou Ana Magnólia.

Metas desumanas 

A especialista aponta que a presença intensa de relações "produtivistas" intensifica a sobrecarga no trabalho. 

“Essas relações produtivistas, conforme descrito pela amostra, são caracterizadas pelo foco em metas, pela cobrança por resultados, pela pressão intensificada pela vigilância de resultados e também pela insuficiência de pessoas para realizar as tarefas que contribui para um ritmo de trabalho excessivo”, afirmou.

“Essas relações produzem as patologias da violência e da sobrecarga, como o cansaço, o desgaste, a sobrecarga, a frustração, a desmotivação, a falta de liberdade de expressão e de opções no trabalho, além de indiferença entre colegas e desconfiança entre chefia e subordinados, as quais aumentam a presença de sintomas de adoecimento marcados por características de transtornos ansiosos”, completou Magnólia.

O estudo contou com a participação de 5.803 bancários em todo o Brasil e revelou a presença intensa de fatores de risco do trabalho bancário, bem como uma alta ocorrência de sintomas de adoecimento entre os trabalhadores. 

Para o secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, os resultados trouxeram à tona preocupações significativas sobre os impactos do modelo de gestão adotado pelos bancos na saúde mental dos trabalhadores. “Diante desse cenário, torna-se imperativo agir de forma imediata sobre os fatores críticos, buscando modificá-los, e melhorar as condições laborais”, avaliou Salles.

O presidente do Sindicato do Rio José Ferreira, que faz parte do Comando Nacional e participou do encontro em São Paulo, destacou a necessidade de a categoria se organizar para mudar estes paradigmas e um modelo de imposição de metas que adoece cada vez mais bancárias e bancários. 

"Mostramos aos bancos com números e um embasamento científico que este modelo de gestão, de imposição de metas desumanas, prática de assédio moral e incentivo à competição individual entre trabalhadores só tem feito aumentar o número de bancários adoecidos. Cobramos um ambiente de trabalho saudável e coletivamente solidário, o que seria muito mais produtivo e garantiria a saúde dos funcionários ", disse José Ferreira. 

"Será fundamental a participação da categoria na Campanha Nacional, em que temos este ano o desafio da renovação da Convenção Coletiva de Trabalho, para acabarmos com essa política de metas abusivas e garantirmos condições dignas de saúde e de trabalho para todos os bancários e bancárias", acrescentou Ferreira.  

Reposta frustrante 

Os representantes dos trabalhadores aproveitaram o encontro para cobrar algumas respostas das reivindicações apresentadas à Fenaban no último encontro, como a modernização da cláusula 61 da Convenção Coletiva de Trabalho, que trata de prevenção de conflitos, e o fluxo de acolhimento aos trabalhadores adoecidos.

Os bancos pediram um prazo maior para uma resposta. Na última reunião, os bancos já haviam se comprometido a dar uma resposta sobre a demanda e agora, mais uma vez, pediram mais tempo para apresentar uma proposta, irritando os sindicalistas. 

A próxima reunião deve ser marcada ainda para este mês de abril.

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