Sábado, 03 Agosto 2019 18:16

Garantia da soberania nacional só será possível com mobilização popular

João Pedro Stédile, líder do MST, defende novas estratégias de mobilização que conquistem mentes e corações para a luta pela soberania nacional e emancipação popular João Pedro Stédile, líder do MST, defende novas estratégias de mobilização que conquistem mentes e corações para a luta pela soberania nacional e emancipação popular

No debate sobre soberania nacional, realizado na tarde de sábado (3/8), na 21ª Conferência Nacional, João Pedro Stédile, dirigente nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), disse que o campo político progressista e popular não pode mais acalantar a ilusão de que existe no Brasil uma burguesia preocupada com a indústria brasileira e o desenvolvimento nacional e criticou a entrega do patrimônio público para o capital privado, nacional e estrangeiro.

“A Vale do Rio Doce subfatura a venda de minério para sua subsidiaria da suíça, não paga impostos para o Brasil, ICMS para os estados que produzem o minério e não há um só procurador da Justiça, destes que posam de defensores da lei, que se rebele contra isso”, critica.

Educação mobilizou a sociedade

Stedile destacou caminhos para enfrentar a ofensiva do capital contra a soberania do povo brasileiro.

“É preciso defender a educação, a pauta que mobilizou gente em todo o país contra o governo. Já na reforma da Previdência não conseguimos explicar para a população sobre o perigo da proposta e nem realizamos uma forte greve. O povo está mais preocupado com o emprego e não entendeu que daqui a 30 anos não conseguirá se aposentar. As ruas não pressionaram suficientemente o Congresso Nacional”, explica.

Lula Livre

Para o líder do movimento dos camponeses a libertação de Lula, fundamental para a defesa da democracia, sensibilizou a  militância, mas não o povão.

 “Só a mobilização de massa mudará esta conjuntura. O desafio dos movimentos organizados é chegar ao povão”, avalia, lembrando que a maioria do povo brasileiro já se convenceu de que Lula é um preso político. Citou as pesquisas de opinião feitas após a divulgação das conversas entre os principais membros da Operação Lava-Jato que revelaram a trama política que impediu o líder petista de ser candidato à presidência da República em 2018. Antes destas divulgações, 74% dos brasileiros acreditavam que Lula era culpado e tinha que ser preso. Agora só 34% defendem a prisão do petista e 58% dos entrevistados diz que ele é inocente e tem que sair da cadeia.

Para Stédile é fundamental também colocar na pauta da mobilização popular, a defesa das estatais e bancos públicos.

 Mobilização é decisiva para mudar

 Já o ex-governador da Bahia e senador petista Jaques Wagner disse que é preciso aliar a mobilização das ruas e vilas do campo com a capacidade de negociação institucional, no Congresso Nacional.

“Se não tiver movimento de massa não tem parlamento que produza nada que preste. É a rua que determina. O movimento social não pode se submeter aos partidos e aos governos,. Os governos aliados são fundamentais, mas os governos passam e a luta dos trabalhadores e dos movimentos socais continua”, afirma.

Wagner disse ainda que não será possível recuperar a economia nacional se a política econômica do governo destruir a base industrial e o patrimônio natural do país.

“Se este projeto do governo for adiante vamos andar muito tempo no deserto para poder ter, de fato, um país soberano”. Para o senador baiano as declarações e ações absurdas de Bolsonaro servem para distrair o povo do que realmente interessa.

“O presidente da República cuida do circo, atrai a nação com asneiras, agredindo valores da democracia enquanto o ministro Paulo Guedes e sua turma fazem o papel principal de entregar o patrimônio público ao grande capital. Guedes rouba o patrimônio e Bolsonaro nos distrai com questões secundárias, como colocar seu filho na embaixada dos EUA”, avalia.

O senador explicou que a política entreguista e de desregulamentação dos direitos trabalhistas, levam à perda de arrecadação e, consequentemente, da capacidade de execução de políticas governamentais.

“Tem uma soberania nacional saindo pelo ralo da desregulamentação trabalhista via aplicativos. A relação capital-trabalho de um motorista da Uber, por exemplo, é zero”, ressaltou.

Democracia ameaçada

Para Wagner, as ações das plataformas digitais no mundo inteiro para interferir no processo político pode representar uma ameaça às instituições e a democracia.

“A plataforma digital poderia ter um papel importante para compartilhar conhecimento, mas virou um aprisionamento de milhões de pessoas nas redes sociais, espionando e captando os medos e desejos das pessoas, contruindo dogmas”, disse.  Citou a saída da Inglaterra da união europeia e as eleições no Brasil e nos EUA como exemplos desta nova forma de manipular a opinião pública.

“O impossível aconteceu. Foi plantada a semente do ódio contra os governos do PT e a política tradicional. Com medo do PT as pessoas se jogaram no abismo”, afirma.

“Precisamos trazer a garotada de 20 e 30 anos, este sangue novo que contagia a política brasileira, para o debate e a mobilização e oferecer curso de formação. Enquanto discutimos nessa Conferência, milhões de robôs estando divulgando mensagens para as pessoas contra os movimentos sociais. Plataformas digitais doutrinaram 57 milhões de pessoas e elegeram o presidente do Brasil. Não estou desaminado, mas reconheço o tamanho do desafio. Acredito que estas ações no universo virtual ameaçam a democracia”, conclui. 

Capital improdutivo

Para o professor titular de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ladislaw Dowbor, autor do livro “A Era do capital improdutivo”, entre outras obras, disse que o sistema financeiro mundial ameaça à soberania nacional. Segundo ele, a concentração de renda e de riqueza no planeta atingiu níveis de “extorsão” e a hegemonia do capital especulativo no Brasil e no mundo impede o desenvolvimento produtivo, aumentando a desigualdade social.

“A evolução do PIB no mundo é algo em torno de 2% a 2,5% ao ano enquanto as aplicações financeiras renderam entre 7% e 9% ao ano. Onde os grandes grupos colocaram seu dinheiro? Colocaram em aplicações financeiras”, explica. Esse sistema, segundo ele, aprofunda a desigualdade social, e gera, no caso do Brasil, concentração de renda nas mãos de apenas 5% dos habitantes.

Hegemonia rentista

Com um sistema financeiro, no qual o que prevalece é o rentismo, sobra pouco para investimento em desenvolvimento econômico e social, avalia o professor da PUC. “Do dinheiro que está concentrado em aplicações financeiras, apenas 10% retorna em investimentos. O sistema financeiro atual trava o desenvolvimento econômico do país”, disse Ladislaw.

Segundo ele, a transferência de recursos para os bancos e outras organizações financeiras trava a capacidade do Estado de expandir políticas sociais e de infraestruturas. Soma-se a esse cenário a evasão para paraísos fiscais como mais um elemento de ameaça à soberania.

“No Brasil, dados de 2012 mostram que estão em paraísos fiscais R$ 2 trilhões, ou seja, 1/3 do PIB está lá fora, não investe no país e não paga imposto”, alertou.

 

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